Maputo, 29 Fev (AIM) – A Secretária de Estado da Província da Zambézia, Cristina Mafumo, destaca a necessidade de todos os moçambicanos estarem envolvidos na preservação da paz, independentemente das diferenças que possam existir.
Mafumo falava esta quinta-feira, em Quelimane, capital provincial, durante uma reflexão sobre “Mecanismos e Modelos Locais de Promoção de Paz e Reconciliação em Moçambique”, um evento promovido pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), no âmbito do Projecto “PROPAZ – Cultura de Promoção de Paz, Reconciliação e Coesão Social”.
“A busca da paz em Moçambique é tarefa de todos os moçambicanos. Temos sempre dito que a paz não se vende, não se compra e não se resume só ao calar das armas. Ela deve estar nas nossas casas e no coração de cada um de nós”, disse a secretária de Estado citada em comunicado do IMD enviado à AIM.
“Não olhemos só para as armas. Vou dar exemplo da nossa província, quando estamos num momento de surto de cólera e a nossa população em algum momento ainda não percebe as causas da cólera e apontam para um líder comunitário, assassinam um líder comunitário, destroem bens do sector da saúde e outras infra-estruturas, aí saímos da dimensão de saúde e entramos na situação da ausência de paz. Podemos considerar que naquela zona não há paz. E se não há paz não há desenvolvimento”, sustentou.
Segundo a dirigente, é preciso transmitir valores que promovam a paz para as crianças através de bons exemplos.
Realçou que a formação de perfil de um cidadão faz-se com exemplos, com o seu dia a dia. “Quando uma criança cresce a pensar que o acto de destruir infra-estruturas é um acto normal, estamos a deformar a sociedade, isso não nos ajuda em nada. Por isso precisamos olhar para esta paz em todos os ângulos do desenvolvimento do nosso país e não apenas no calar das armas”, vincou.
No evento, o padre Abel Canada defendeu a necessidade de se priorizar a reconciliação entre os moçambicanos e não se limitar a assinatura de acordos que visam viabilizar a realização de eleições.
“Enquanto continuarmos a ignorar o processo de reconciliação entre os moçambicanos, onde todas nós iremos nos considerar irmãos e unidos num mesmo país, não encontraremos caminhos de paz, havemos sim encontrar caminhos de cessação de hostilidades, negociações para eleições ou então caminhos de concórdia para algum objectivo”, disse.
Argumentou que é por isso que sempre que se está prestes a um sufrágio ocorre a assinatura de memorandos entendimentos entre os dirigentes políticos para permitir um ambiente de paz para a realização de eleições. “E depois das eleições voltamos a ter hostilidades, guerra e manifestações”.
Neste contexto, o director de Programas do IMD, Dércio Alfazema, propôs a criação de uma agenda nacional para a promoção da paz.
“O país ciclicamente tem estado a assinar acordos de paz, isto demonstra que existem algumas fragilidades. É preciso encontrarmos quais são os elementos que deixam a nossa paz frágil, quais são os factores de vulnerabilidade e o que podemos fazer sobre eles”, afirmou.
Para isso, segundo Alfazema, o IMD tem estado a defender a elaboração de uma agenda da paz e também “a institucionalização da paz”.
Destacou a necessidade de se reforçar as capacidades das instituições e melhorar a organização de processos eleitorais, pois, segundo a fonte, “os processos eleitorais, nos últimos anos, foram uma das principais causas de conflitos.”
“Precisamos olhar com frieza para estes processos, aprender com eles para podermos corrigir os processos futuros. Porque as eleições não podem continuar a ser causa de conflito, causa de tensão que chegam a gerar conflitos militares”, frisou.
O encontro decorre de um processo de consultas que a organização está levando a cabo com vista a propor uma agenda nacional de promoção da paz e reconciliação nacional.
Este foi o terceiro encontro dos onze que vão decorrer em todo o país, com o financiamento da União Europeia, para além de encontros regionais e nacionais que vão juntar autoridades locais, Organizações da Sociedade Civil, Partidos Políticos, académicos, líderes (comunitários e religiosos), artistas, estudantes, entre outros.
(AIM)
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