
A 25ª Conferência Internacional sobre a AIDS em Munique destacou uma estratégia crucial para acabar com o HIV como uma ameaça à saúde pública até 2030, passa por colocar as comunidades na linha de frente.
Embora a resposta global ao HIV tenha sido há muito tempo um esforço colaborativo com progressos significativos, um envolvimento mais profundo da comunidade é agora vital para enfrentar os desafios persistentes.
À medida que nos aproximamos da meta de 2030, devemos refinar nossa abordagem para integrar melhor a liderança comunitária, mantendo ao mesmo tempo um forte apoio internacional. Essa evolução se baseia nos sucessos anteriores, criando uma resposta mais eficaz e sustentável para finalmente superar a epidemia de HIV.
Programa centrado na comunidade
Programas centrados na comunidade não se resumem apenas a consultas; trata-se de uma liderança genuína que envolve pessoas vivendo com HIV ou afetadas por ele em todas as etapas do processo – desde o design e a implementação até o monitoramento e avaliação. Ele garante que as comunidades liderem o processo, contribuindo com suas percepções, necessidades e forças únicas, que são essenciais para o desenvolvimento de soluções eficazes e sustentáveis. Essa abordagem também apoia iniciativas concebidas, lideradas e geridas por membros da comunidade, que estão em uma posição única para enfrentar os desafios locais e os contextos culturais.
Mas sejamos claros: isto não é apenas um discurso para agradar. Respostas lideradas pela comunidade funcionam. Quando as comunidades assumem a liderança, os programas se tornam mais responsivos, culturalmente apropriados e eficazes. A confiança entre os prestadores de serviços e os membros da comunidade aumenta, resultando em melhores resultados de saúde e uma resposta ao HIV mais forte e resiliente.
No seu cerne, essa abordagem prioriza os direitos das pessoas que vivem com HIV. Ela combate ativamente o estigma, a discriminação e a marginalização, promovendo dignidade e respeito nas comunidades que serve.
Barreiras para a programação comunitária de combate ao HIV
No entanto, barreiras significativas persistem. O estigma contra pessoas que vivem com HIV e grupos marginalizados, como trabalhadores do sexo e indivíduos LGBTQ+, continua a impedir sua participação nos programas e a limitar a eficácia das intervenções. Muitas organizações comunitárias enfrentam dificuldades operando com orçamentos limitados, o que impede seu potencial de causar um impacto significativo. Em algumas regiões, leis e políticas punitivas criminalizam as próprias populações que precisam de apoio.
Ameaças externas adicionam outra camada de complexidade. Conflitos, deslocamentos, mudanças climáticas e outras crises humanitárias interrompem os serviços, deslocam comunidades e exacerbam vulnerabilidades, tornando ainda mais difícil manter uma resposta consistente e eficaz ao HIV.
Esses desafios são formidáveis, mas não intransponíveis. Superá-los requer repensar radicalmente nossa abordagem para torná-la mais flexível, equitativa e inclusiva.
Liderança Comunitária, Mudança Sistêmica e Adaptação Inovadora
Isso significa reestruturar fundamentalmente nossas estratégias em torno de três princípios centrais: liderança comunitária, mudança sistêmica e adaptabilidade inovadora. Na Pathfinder International, há muito reconhecemos a centralidade das comunidades em nosso trabalho e adotamos com sucesso essas três estratégias. Nossa experiência demonstra que essa abordagem funciona e é essencial para programas eficazes de combate ao HIV.
Primeiro, devemos empoderar as comunidades por meio de parcerias significativas, enquanto mantemos um forte compromisso e financiamento internacional. Na Pathfinder, vimos de perto que fortalecer a capacidade de Organizações Comunitárias (CBOs) leva a comunidades mais fortes e resilientes. Em Moçambique, por exemplo, treinamos e apoiamos CBOs e Organizações da Sociedade Civil (OSCs) para aprimorar suas habilidades na prevenção, cuidado e tratamento do HIV. Essas organizações, que também abordam a violência baseada em gênero (VBG) entre populações-chave, muitas vezes conseguem garantir subsídios como sub-beneficiárias, combinando expertise local com recursos globais. Essa estratégia aproveita as percepções da comunidade e constrói confiança e pertencimento, ambos essenciais para uma resposta duradoura ao HIV.
Em segundo lugar, precisamos enfrentar as barreiras sistêmicas que impedem os esforços liderados pela comunidade. Isso exige uma abordagem multifacetada: combater o estigma por meio da educação e advocacia, promover reformas políticas que marginalizam populações vulneráveis e criar parcerias equitativas entre comunidades, ONGs, governos e doadores. Através do nosso projeto Hands Off! em Moçambique, a Pathfinder está ativamente defendendo reformas legais para eliminar leis discriminatórias que marginalizam pessoas vivendo com HIV e populações-chave. Trabalhando em estreita colaboração com governos e comunidades, promovemos ambientes onde os programas centrados na comunidade podem prosperar. Isso também inclui o fortalecimento dos sistemas de saúde, como visto no nosso projeto ECHO, onde colaboramos com o Ministério da Saúde de Moçambique para garantir um fornecimento consistente de medicamentos essenciais contra o HIV e melhorar o treinamento dos profissionais de saúde.
Por fim, devemos adotar a adaptabilidade inovadora em nossa abordagem. O cenário do HIV não é estático; nossas respostas também não deveriam ser. Na Nigéria, adotamos ferramentas digitais para a prevenção do HIV, como aplicativos móveis para adesão a medicamentos e grupos de apoio online para alcançar populações menos atendidas. Também adaptamos os designs dos programas em tempo real, utilizando feedback da comunidade e dados, como em nossa recente sessão sobre o avanço da prevenção do HIV através de métodos controlados por mulheres. Também envolvemos ativamente os jovens no desenvolvimento de estratégias, reconhecendo seu papel crucial na criação de programas eficazes e voltados para o futuro.
O caminho a seguir
A base de todos esses esforços deve ser uma confiança fundamental nas comunidades para liderar. Realizar essa visão exige uma liderança ousada de governos e organismos internacionais dispostos a desafiar o status quo e priorizar as necessidades das pessoas que vivem com HIV e são afetadas por ele.
Ao sairmos de Munique, a mensagem foi clara: as comunidades não são apenas parte da solução – elas são a solução. Acabar com o HIV até 2030 é possível, mas somente se colocarmos as comunidades verdadeiramente no centro da nossa resposta. A escolha é clara. O momento de agir é agora. Nosso sucesso em acabar com a epidemia de HIV depende de nossa disposição para confiar, empoderar e seguir a liderança das comunidades que servimos.