Maputo, 21 Nov (AIM) – A proliferação de notícias falsas (Fake News, na língua inglesa) representa uma grave ameaça contra a liberdade de imprensa e de expressão, sobretudo no actual momento pós-eleitoral em Moçambique.
Esta é a asserção do director-executivo da organização não governamental Sekelekani, Tomás Vieira Mário, que lamenta a viralização de notícias falsas nos últimos meses, como nunca antes tinha acontecido no país.
“Notícias bem estruturadas em termos técnicos, mas falsas; e o fim disso é confundir e manipular a opinião pública”, explicou Vieira Mário, hoje, em Maputo, durante a Mesa Redonda sobre “O Papel das Organizações da Sociedade Civil (OSC) no actual Contexto Político Pós-eleitoral em Moçambique”.
Tomás Vieira Mário, que igualmente é jornalista, citou como exemplo uma notícia na capa da edição de 8 de Novembro de 2024, do jornal The New York Times, intitulada “The Assassins of a Nation Called Mozambique” (Os Assassinos de uma Nação chamada Moçambique).
A capa é ilustrada com fotografias do candidato presidencial Venâncio Mondlane e dos activistas sociais Adriano Nuvunga e Quitéria Guirengane.
“Houve outra história que dizia que “Presidente Chissano reconhece Venâncio Mondlane como primeiro candidato que desafia a Frelimo”, tinha grandes parangonas e tinha uma gangala da TVM; qual é a ideia? É que o público acha que se uma notícia sai da TVM, então só pode ser verdadeira”, disse Vieira Mário.
Os fake news preocupam sobremaneira pois tendem a criar debates falsos.
Por seu turno, o advogado e defensor dos direitos humanos, Custódio Duma, disse que maioria dos jovens que participam nas manifestações pós-eleitoral, do fundo, querem ser ouvidos pelo governo e órgãos do Estado.
Por isso, urge chamar aos jovens para participar nos eventos tais como a presente Mesa Redonda, como forma de acolher os seus sentimentos.
“A minha observação em relação aos jovens, em parte, usando os termos que usam ´Este país é nosso´, faz-me pensar um pouco em pessoas que durante muito tempo estiveram ausentes no Estado (…) estiveram ausentes na abertura de políticas públicas, nos grandes eventos, grandes conferências, e nas questões sociais”, destacou Duma.
Os jovens, acrescentou, carecem de acesso à educação, saúde, segurança e outros serviços básicos e quando gritam o slogan é porque necessitam desses serviços, como cidadãos, assim como querem ser ouvidos.
Duma, que falava no painel intitulado “Direitos Humanos no Contexto Pós-eleitoral”, explicou que ao bloquear as vias de acesso, os jovens reclamam no utilitário daquela via que, supostamente, é ouvido, e participa nos debates públicos.
A Mesa Redonda surge como uma plataforma de reflexão sobre as manifestações pós-eleitorais que se registam em todo o país, desde meados de Outubro último e causaram mais de 30 mortes e cerca de 400 feridos.
Convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, as manifestações tendem a ser menos violentas devido ao apelo à não violência, lançado recentemente pelo Presidente da República, Filipe Nyusi.
Venâncio Mondlane reclama os resultados das VII eleições presidenciais e legislativas e das IV para as assembleias provinciais e de governador de província, realizadas a 9 de Outubro último.
Os resultados do apuramento central divulgados a 24 de Outubro, pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória ao candidato presidencial Daniel Chapo, e a Frelimo, o partido no poder que apoia Chapo, ainda carecem de validação do Conselho Constitucional, o órgão soberano que compete especialmente administrar a justiça em matérias jurídico-constitucionais e, em última instância, de contencioso eleitoral no país.
(AIM)
AC/sg