Lisboa, 02 Jan (AIM)- O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhou que o populismo em crescendo no mundo é “um efeito de fenómenos mais importantes”, nomeadamente o “agravamento da miséria, da fome, da desigualdade no mundo, subida das dívidas externas, asfixia financeira de nações, instabilidade, guerras e migrações”.
No fundo, segundo Marcelo Rebelo de Sosa, é a “incapacidade das instituições internacionais para lidar com estes desafios” que espoleta o populismo e os respectivos perigos.
Num sério aviso à “navegação”, perante as turbulências acima referidas que ocorrem no mundo, o chefe de Estado acrescenta: andamos todos distraídos “com árvores” e enquanto isso Portugal “desperdiçou o mais fácil”.
O Presidente da República dirigiu-se ao país através da CNN Portugal Summit, que decorreu em Lisboa: num discurso ora metafórico ora futurístico, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que acabou um mundo que durou 40 anos: “Mas ainda não é o fim da História”. E pediu velocidade a Portugal.
Marcelo quer abordar numa “perspectiva diferente” os desafios de Portugal e da Europa. No encerramento da CNN International Summit, em Lisboa, afirmou que concentrarmo-nos somente nos “fenómenos corriqueiros” como os do populismo e da desinformação, entre outros, “é ver a árvore e não a floresta”.
O Presidente considera que a “causa das demais causas” se deve ao “fim de um ciclo”. E que ciclo termina agora, “sem notarmos ou fazendo de conta de que não existe”? “O fim de uma ordem mundial feita à medida do fim da Segunda Guerra. O fim de uma era de liderança e de memórias que passaram. O fim — lento, mas o fim — da criação da ONU e da sua Carta. Durou mais ou menos 40 anos, com altos e com baixos, a crença nessa ordem internacional.”
Marcelo diz que a derrota de Donald Trump em 2020 “não parou a onda” populista — onda essa que chegaria até nós, à Europa, “e que se transformou em tempestade perfeita”. “E a Europa?”, pergunta Marcelo, “o que vai fazer?”. E responde longamente o Presidente: “O que a Europa vai fazer pode já não ser o suficiente. Para ter sucesso, não basta recuperar terreno para os EUA e a Ásia em domínios cruciais. A Europa precisa de preencher várias condições. Não se desunir neste momento crucial para o futuro das guerras e pós-guerras. Não se esquecer de recuperar as parcerias que perdeu com África ou a América Latina. E tudo fazer para manter as relações transatlânticas, mesmo contra ventos mais agrestes [Trump] — quando os EUA se desinteressaram da Europa, pagaram facturas elevadíssimas”.
Finalmente, “o essencial do essencial”, refere o Presidente da República: “Temos, na Europa, de reformar os sistemas políticos, económicos e sociais obsoletos que abriram caminho aos populistas”.
Marcelo Rebelo de Sousa considera que “vivemos em tempos sem memórias”. E enumera algumas, falando aos jovens, “que não se podem recordar do que não conheceram”: “A memória da Segunda Guerra Mundial. Da reconstrução. Do fim dos impérios. Da implosão da União Soviética. Da reunificação da Alemanha. Do 25 de Abril, da revolução”.
O 25 de Abril, segundo historiadores, abriu caminho para as independências das colónias portuguesas em África, nomeadamente Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe.
Pegando no 25 de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa falaria de um “nós”, portugueses, um “nós” que “acreditamos na Liberdade”. “Recuperemos o tempo perdido”, apela o Presidente. Como? “Para que a Europa seja forte, as lideranças internas têm de o ser também. Fortaleçamos os sistemas nacionais reformando-os. E não cedamos à tentação de acreditar que as ditaduras vencerão. Só vencerão se nós fracassarmos.”
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que em “900 anos” Portugal ganhou e perdeu “independências”, viveu “o melhor e o pior”, “desperdiçámos o mais fácil e fizemos o mais difícil”. Apesar de os seus melhores lá fora não “pedirem meças ao mundo”, Marcelo Rebelo de Sousa considera que “é ainda pouco” enquanto nação, enquanto todo. “Precisamos de ir mais longe no conhecimento, no crescimento, nas desigualdades” — “os outros não esperam por nós”. E insistiu: “As outras economias e sociedades não esperam por nós”.
O Presidente da República diz que para Portugal este não é ainda “o fim da História”. “Nos 50 anos do 25 de Abril, temos que ser mais futuro do que passado. Numa palavra: dar sentido a um Portugal onde valha a pena viver, numa Europa onde valha a pena viver, num mundo onde valha a pena viver.”
(AIM)
DM