
Maputo, 22 Jan (AIM) – A multinacional petrolífera TotalEnergies adiou novamente a implementação, em Moçambique, do seu projecto de gás natural liquefeito orçado em 20 mil milhões de dólares, alegadamente por questões de segurança e incerteza política devido aos últimos distúrbios pós-eleições.
O projecto de GNL, que tem o potencial para transformar a economia de Moçambique, foi lançado em 2020. Na altura, era o maior projecto de investimento directo estrangeiro em África.
Infelizmente, a TotalEnergies acabou invocando “força maior”, em 2021, depois de insurgentes islâmicos terem assassinado dezenas de pessoas, incluindo trabalhadores estrangeiros. O ataque ocorreu perto das instalações da empresa, onde estava projectada a construção de uma fábrica para a liquefacção de gás natural na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Os planos para reiniciar o projecto até ao final de 2024 foram desfeitos após o surto de violência que se seguiu às disputadas eleições presidenciais de Outubro, pondo em risco a meta de iniciar a produção de gás natural em 2029, disse a TotalEnergies num contacto estabelecido com o Financial Times.
Patrick Pouyanné, director executivo da TotalEnergies, disse aos investidores em Nova Iorque, em Outubro, que esperava reiniciar o projecto até ao final do ano passado, reiterando que a meta é iniciar a produção em 2029.
Pouyanné afirmou que se registaram “progressos no terreno” através de uma aliança entre Moçambique e o Ruanda, na qual Kigali enviou 4.000 soldados para combater uma insurreição que matou pelo menos 3.000 pessoas e forçou centenas de milhares a abandonar a região e procurar refúgio em locais mais seguros.
Pouyanné também disse no dia do investidor da empresa em Outubro que tinha planos de se reunir com o novo presidente moçambicano após as eleições, algo que ainda não aconteceu.
O Presidente moçambicano recém-empossado, Daniel Chapo, fez da protecção do projecto de gás e da supressão da insurreição um dos eixos da sua campanha eleitoral.
“A prioridade é o restabelecimento da paz e da segurança em Cabo Delgado e o levantamento da cláusula força maior”, declarou a TotalEnergies. É necessário que os “serviços públicos” e a “vida normal” sejam retomados para que o projecto possa recomeçar, acrescentou a empresa.
O ambiente político acabou por se assombrar pelo facto de muitos moçambicanos, particularmente jovens urbanos, estarem convencidos de as eleições terem sido manipuladas a favor de Chapo, não obstante o facto de o Conselho Constitucional ter validado e proclamado o candidato presidencial da Frelimo como sendo o verdadeiro vencedor.
Os distúrbios que se seguiram provocaram a morte de mais de 350 pessoas, bem como perturbaram o comércio, encerraram as fronteiras terrestres e outras actividades económicas.
O candidato da oposição, Venâncio Mondlane, que se autoproclamou “Presidente eleito pelo Povo” ameaçou convocar novos protestos se as suas exigências não forem satisfeitas no prazo de três meses. As exigências incluem isenção do IVA nos produtos básicos de consumo, redução do preço do cimento, entre outras.
O projecto também enfrenta possíveis atrasos devido a incertezas quanto à mobilização de financiamento. O financiamento dos EUA, através de um empréstimo de 4,7 mil milhões de dólares, foi congelado após a declaração de força maior, enquanto o Reino Unido terminou desde então o financiamento à exportação de projectos de combustíveis fósseis.
O projecto na Bacia do Rovuma, no qual a empresa francesa tem uma participação de 26,5%, tem uma capacidade de 13 milhões de toneladas de LNG por ano.
Trata-se de uma das maiores fontes de GNL da empresa francesa, num conjunto de projectos que deverão arrancar até 2030, de acordo com uma apresentação feita no dia do investidor da empresa em Outubro.
O grupo está também envolvido em projectos de GNL no Qatar, México, EUA, Nigéria e Omã.
Cabo Delgado, na costa moçambicana do Oceano Índico, tem uma localização ideal para satisfazer a procura crescente de LNG nos mercados asiáticos “por oposição aos projectos virados para o Atlântico”, afirmou James Waddell, analista da Energy Aspects.
“Este projecto continua a ser rentável porque existe uma carteira, em particular, de vendas de LNG, que é bastante atractiva”, disse Pouyanné, em Outubro.
(AIM)
Financial Times/sg/mz