
Vereadora da Saúde e Acção Social, Alice de Abreu
Maputo, 06 Mar (AIM) – O Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM), condenou hoje (06), veementemente, actos bárbaros cometidos por alguns populares, durante a transladação de corpos da morgue do Hospitalar Central de Maputo (HCM) para a morgue anexa ao cemitério de Michafutene, localizado nos arredores da capital moçambicana.
Trata-se de um caso de extrema gravidade, ocorrido cerca de 15h00 de quarta-feira (05), quando uma viatura do município do Maputo, responsável pelo transporte de corpos da Morgue do HCM para a Morgue Municipal de Michafutene, foi atacada por uma multidão nas proximidades do referido cemitério.
O caso teria sido motivado por suspeita de os corpos terem sido sujeitos a extracção ilegal de órgãos humanos.
“O ataque culminou com a agressão do motorista, danos materiais à viatura e, num acto de profundo desrespeito à dignidade humana, na exposição indevida dos corpos transportados”, disse a vereadora da Saúde e Acção Social, Alice de Abreu, em conferência de imprensa havida na manhã desta quinta-feira.
Explicou que a situação apenas foi controlada após a intervenção da Polícia da República de Moçambique (PRM), que garantiu a chegada da viatura ao destino final e a remoção segura dos corpos.
“Ficamos muito tristes com a ocorrência que foi verificada e a falta de respeito e consideração com os corpos que estavam a ser transportados e expostos em vídeos. Não é correcto, nós abrirmos, expor, mexer, fazer vídeos da forma como foi feita. Repudiamos aquilo que aconteceu ontem, uma situação muito grave de desrespeito à dignidade dos falecidos, às famílias enlutadas, mas também, à sociedade moçambicana”, disse.
Lançou um reiterado apelo à população para que apoie o sector de saúde, de morgues de cemitérios, para que eles possam realizar da melhor forma o trabalho, que é de garantir mais e melhores serviços de saúde para os munícipes.
Apresentou igual preocupação em relação à forma como o motorista foi molestado, violentado psicologicamente e fisicamente, e, igualmente, sobre a forma como foi vandalizada a viatura que é utilizada para fazer o transporte de corpos de um local para o outro, garantindo comodidade para as famílias que pretendam fazer o enterramento dos seus ente queridos na morgue anexa ao Cemitério de Michafutene.
Explicou, mais adiante, as razões por detrás da transladação dos corpos para a morgue anexa ao Cemitério de Michafutene, que foi aberta para diminuir a pressão em termos de conservação no HCM.
“Após a abertura da morgue anexa ao Cemitério de Michafutene, o Conselho Municipal tem feito o transporte dos corpos do HCM, Hospital Psiquiátrico de Infulene, Centro de Saúde de Catembe e Inhaca, para a morgue anexa, por ter mais capacidade de internamento e conservação, como também por ser o cemitério que realiza a maior parte dos enterros”, explicou.
Quanto ao estado de conservação dos corpos durante a transladação para a morgue anexa, referiu que, cada um deste é acondicionado em gavetas separadas e transportados fechados, e habitualmente tem sido feito em 20 a 30 minutos, tempo que não influencia no processo de descongelamento dos mesmos, por estarem a sair do frio.
“Nós tínhamos a transportar, cerca de cinco corpos, acondicionados cada um na sua roupa e gaveta, fechados e separados um do outro. O contentor é fechado no local de partida e aberto no local de chegada, ao contrário do que aconteceu ontem, ter sido aberto e exposto ao público”, esclareceu.
Entretanto, a médica-legista do HCM, Stela Matsinhe, confirmou a existência, no contentor, de corpos que tinham sido feitos autópsia médico-legal, mas com o consentimento das famílias.
“Nenhuma autópsia médico-legal é feita sem autorização da família, porque esta tem que assinar que consente a realização da autópsia, ou por outra, se quiser saber da causa de morte, solicitar a autópsia, assinar e confirmar o pedido da mesma”, garantiu.
Esclareceu ainda que, depois da autópsia, os corpos são liberados para passarem para a morgue do cemitério onde se pretende fazer o enterro, mediante a confirmação da disponibilidade de espaço para o mesmo.
“Se o enterro for no cemitério municipal de Michafutene, nós com a informação da família, fazemos o transporte do corpo para o cemitério municipal de Michafutene, porque eles têm que dizer onde pretendem fazer este enterramento, caso já tenham informação disponível”, disse.
Portanto, não tendo esta informação disponível e algumas vezes não havendo espaço, por uma questão de garantia, qualidade e conservação, os gestores do enterramento, informam à família que o corpo está conservado no cemitério municipal de Michafutene.
Para o caso vertente assegurou não ter havido extracção de órgãos, mas o cumprimento de procedimentos médico-legais para se apurar as causas da morte.
“Se esta morte é violenta, nós temos duas vias, pode haver uma suspeita por parte da família ou da população, que deverá se dirigir às autoridades e fazer uma denúncia e a polícia irá levar os corpos para serem feitas as autópsias. Por outro lado, existem aqueles casos em que a polícia ou a comunidade informa à polícia sobre a existência de um corpo sem vida numa determinada localização, e este é levado para a autópsia”, explicou.
Por isso, apelou à população, para sempre que, na eventualidade do desaparecimento de um familiar, aproximarem-se às autoridades policiais, para fazer o devido reconhecimento dos corpos.
(AIM)
NL/sg