
Lisboa, 19 Out (AIM)- O Governo português condenou este sábado a morte, num “ataque”, do mandatário do partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias, ocorrida na última noite em Maputo, a capital moçambicana.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) deste país europeu condena, numa mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter), “liminarmente os assassinatos” do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias.
“Portugal condena liminarmente os assassinatos do mandatário do PODEMOS, Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias”, lê-se na mensagem.
Elvino Dias seguia na avenida Joaquim Chissano, no bairro da Coop, na companhia do mandatário do partido PODEMOS, Paulo Guambe, que também foi morto no local, quando vinha de uma diversão com amigos.
O duplo homicídio ocorreu quando as vítimas foram interpeladas por duas viaturas de marca Mazda – BT50 e, de seguida, dois indivíduos que saíram de uma das viaturas abriram fogo contra o carro em que viajavam o advogado de Mondlane e o mandatário do PODEMOS, culminando no assassinato.
Testemunhas no local relataram que havia uma terceira pessoa no carro que também foi alvejada e posteriormente socorrida para uma das unidades sanitárias na cidade de Maputo.
“O carro dele (mandatário do PODEMOS) foi seguido por duas viaturas BT50, logo que ele chegou neste local foi interpelado por eles e um dos carros bloqueou pela frente e naqueles que vinham detrás desceram dois jovens que começaram a disparar”, disse uma testemunha.
Acrescentou que um disparou do lado direito do motorista e o outro do lado esquerdo. “Dispararam por aí 20 tiros e foram”.
Nos últimos dias, o advogado fez denúncias públicas sobre ameaças de morte contra a sua vida e do candidato às presidenciais (de 09 de Outubro) apoiado pelo PODEMOS, Venâncio Mondlane, supostamente encomendados por “esquadrões de morte”.
Duplo homicídio merece destaque na imprensa portuguesa
O duplo homicídio e as reacções do governo português, bem como de outras entidades, estão a merecer grande destaque na imprensa lisboeta (Rádios, Televisões, Jornais, Agência Lusa e diversas plataformas).
A RTP, por exemplo, diz que o presidente do partido PODEMOS considerou este sábado que Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário daquela força política, foram mortos por “motivos políticos”.
“No nosso entender eles foram assassinados por motivos políticos (…) Foi uma morte planificada e preparada (…), tendo em conta também o contexto em que estamos, com o partido a fazer uma luta pela luta justiça eleitoral. Estamos a terminar agora impugnações a nível dos distritos porque as eleições foram fraudulentas”, declarou Albino Forquilha, presidente do PODEMOS, em declarações à comunicação social no local onde as duas vítimas perderam a vida, no centro de Maputo.
De acordo com fontes policiais, Elvino Dias e Paulo Guambe foram mortos a tiro por volta das 23h20 locais (22h20 em Lisboa) de sexta-feira, na avenida Joaquim Chissano, centro da capital, e, segundo a polícia, um outro ocupante, uma mulher que seguia nos bancos traseiros da viatura, foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada para o Hospital Central de Maputo.
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique, Leonel Muchina, avançou hoje (sábado) que as vítimas tinham estado a confraternizar num mercado de Maputo, tendo ocorrido “supostamente” uma “discussão derivada de assuntos conjugais”, de onde “posteriormente terão sido seguidos”.
Albino Forquilha afasta essa hipótese, considerando que os responsáveis pelo duplo homicídio usaram armas do tipo “AK47”
“Estes assassínios que ocorreram aqui não diferem do que aconteceu em 2019 (ano em que o activista moçambicano Anastácio Matavel foi morto a tiro por um grupo composto por elementos das forças policiais, nas vésperas das eleições gerais). São pessoas do nosso sistema, comandados pela Frelimo (partido no poder em Moçambique)”, declarou Forquilha.
Lembrou que as duas vítimas, que estiveram envolvidas na fundação do partido, desempenhavam um papel fundamental na luta pela justiça eleitoral que o partido está desencadear.
O PODEMOS, registado em maio de 2019, é fruto de uma dissidência de antigos membros da Frelimo, que pediam mais “inclusão económica”, tendo abandonado o partido no poder, na altura, alegando “desencanto” e diferentes ambições.
A polícia moçambicana confirmou este sábado que a viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, mortos a tiro, foi “emboscada” e um terceiro ocupante ferido.
Durante toda a madrugada circularam em Moçambique vídeos de extrema violência sobre as duas vítimas, com a viatura a ser atingida aparentemente por mais de duas dezenas de tiros.
O advogado Elvino Dias, conhecido defensor de casos de direitos humanos em Moçambique, era assessor jurídico de Venâncio Mondlane e da Coligação Aliança Democrática (CAD), formação política que apoiou inicialmente aquele candidato a Presidente da República de Moçambique, até a sua inscrição para as eleições gerais de Outubro ter sido rejeitada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Venâncio Mondlane viria depois a ser apoiado na sua candidatura pelo partido Podemos, cujo mandatário nacional das listas às legislativas e provinciais, Paulo Guambe, também seguia na viatura alvo do crime.
Reacção da delegação da AR à Assembleia Parlamentar da CPLP
A delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa condenou o duplo homicídio de elementos próximos ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, que “mancha o actual momento político que se vive em Moçambique”.
“Foi com profunda consternação que a Delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tomou conhecimento do assassinato de Elvino Dias e de Paulo Guambe, na madrugada deste sábado, 19 de outubro de 2024”, lê-se na mensagem da delegação publicada este sábado.
A delegação presidida por Ana Mendes Godinho expressou a “veemente condenação por este acto violento que mancha o actual momento político que se vive em Moçambique, no quadro do processo eleitoral”.
Além disso, deixa também o apelo às autoridades moçambicanas para que “cumpram o seu dever de garantir a segurança de todos os intervenientes no processo eleitoral” e envia às “famílias e a todo o povo moçambicano uma mensagem de apoio e de profunda solidariedade”.
(AIM)
DM
MARCELO REBELO DE SOUSA CONDENA DUPLO ASSASSINATO EM MAPUTO
Lisboa, 20 Out (AIM)- O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, também reagiu este sábado, à semelhança do Governo, ao duplo homicídio ocorrido em Maputo, mostrando-se preocupado com a situação de Moçambique, após o assassinato do mandatário do partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias.
O chefe de Estado português “acompanha o Governo na condenação dos assassinatos de ontem [sexta-feira] e nas preocupações com a actual situação em Moçambique”, refere uma nota publicada no site da Presidência da República.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português também condenou este sábado “liminarmente os assassinatos” de Paulo Guambe e de Elvino Dias.
“Portugal condena liminarmente os assassinatos do mandatário do Podemos Paulo Guambe e do advogado Elvino Dias”, lê-se na mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter).
“O povo moçambicano exerceu legitimamente o seu direito de voto. Fazer jus à sua maturidade cívica implica garantir o carácter pacífico e ordeiro do processo subsequente”, acrescenta a publicação.
Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, foram mortos na sexta-feira à noite, no centro de Maputo, por indivíduos desconhecidos que dispararam sobre a viatura em que seguiam.
Fonte do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) confirmou este sábado os homicídios.
O crime aconteceu na Avenida Joaquim Chissano, com fontes no terreno a relatarem uma emboscada por homens armados à viatura em que ambos seguiam, depois das 23h00 locais (22h00 em Lisboa), tendo sido disparados vários tiros que acabaram por atingir os dois ocupantes mortalmente.
(AIM)
DM