
Maputo, 04 Jul (AIM) – O governo assegura que vai tentar criar novas oportunidades de emprego para os mais de 2.500 moçambicanos que ficaram desempregados devido ao encerramento definitivo na terça-feira (1) da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) em Moçambique, e em outros 132 países do mundo inteiro.
O Executivo não tem ainda uma solução imediata.
O porta-voz do governo, Inocêncio Impissa, anunciou o facto em conferência de imprensa havida sexta-feira (4) em Maputo, que tinha por objectivo partilhar os assuntos que tiveram lugar durante a semana em curso.
“O que o governo poderá fazer é criar novas oportunidades ou aceitando novas oportunidades, novos postos de emprego e por aí em diante; mas que soluções à vista ou em medida imediata não temos”, disse.
Reconheceu que o número dos desvinculados possui uma capacidade de regenerar e transportar uma experiência que conseguiu granjear durante o tempo em que estiveram na USAID. Por isso, segundo Impissa, “são pessoas que poderão facilmente encontrar novas oportunidades de trabalho”.
O governo vai continuar a notificar e localizar os desligamentos para permitir um melhor rastreio e acompanhamento do processo dos moçambicanos, mas também, vai-se informar sobre o cumprimento de todos os aspectos contratuais vigentes.
O acompanhamento, de acordo com Impissa, visa garantir que os direitos dos moçambicanos sejam naturalmente cumpridos “dentro dos contratos normais de trabalho”.
O financiamento da USAID para o desenvolvimento era geralmente canalizado para uma miríade de Organizações Não-Governamentais (ONG) que geriam projectos, particularmente na área da saúde. Sem os fundos da USAID, a maioria destes projectos está a fechar e a despedir os seus funcionários.
Em Fevereiro, o Embaixador dos EUA em Moçambique, Peter Vrooman, admitiu que o desmantelamento da USAID iria afectar 114 iniciativas de financiamento.
A USAID foi criada pelo Presidente norte-americano, John F. Kennedy em 1961 e, durante seis décadas, gozou de apoio bipartidário, com os governos democratas e republicanos a continuarem a financiar a agência.
Até Donald Trump regressar ao poder este ano, ninguém tinha considerado destruir a USAID.
Mas Trump, com o apoio entusiasta do seu então aliado, o bilionário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, atacou a USAID, usando como pretexto falsas alegações de desvios e abuso de fundos por parte da agência.
Na segunda-feira, dois ex-Presidentes, Barack Obama e George W. Bush, criticaram a administração Trump pelo desmantelamento da USAID.
Um estudo coordenado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e publicado na última edição da prestigiada revista médica “The Lancet” alertou que a destruição da USAID poderá interromper, e até mesmo reverter, “duas décadas de progresso na saúde entre populações vulneráveis”.
A USAID já disponibilizou 40 por cento do financiamento humanitário a nível mundial, com um enorme impacto na redução da mortalidade por doenças como o HIV/SIDA e a malária.
Um dos co-autores do estudo, Davide Rasella, alertou que, para muitos países de baixo e médio rendimento, o choque do desmantelamento da USAID “seria comparável em escala a uma pandemia global ou a um grande conflito armado”.
Analisando dados de 133 países, os investigadores estimaram que o financiamento da USAID evitou 91 milhões de mortes nos países em desenvolvimento entre 2001 e 2021. Utilizaram também a modelação para projectar como o corte de 83 por cento no financiamento – o número anunciado pela própria administração Trump – poderá afectar as taxas de mortalidade.
Os cortes podem levar a mais de 14 milhões de mortes evitáveis até 2030, segundo as projecções. Este número inclui mais de 4,5 milhões de crianças com menos de cinco anos, ou cerca de 700 mil mortes de crianças por ano.
Os investigadores descobriram que os programas apoiados pela USAID estavam associados a uma redução de 15 por cento nas mortes por todas as causas. Para as crianças com menos de cinco anos, a descida das mortes foi duas vezes mais acentuada, atingindo os 32 por cento.
(AIM)
Ac/sg