
Crianças a busca de água. Foto de Carlos Júnior
Maputo, 08 Jul (AIM) – A elevada taxa de fecundidade em Moçambique continua a desafiar a provisão de serviços básicos às populações, indica um relatório sobre a situação da população mundial 2025, intitulado “A verdadeira crise de fecundidade: a busca pela autonomia reprodutiva em um mundo em transformação”.
O relatório, compilado pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), é fruto de uma pesquisa realizada em 14 países que abrigam, juntos, cerca de 37% da população mundial.
O documento constata que “a maioria das pessoas deseja ter filhos e muitas gostariam de ter mais filhos do que realmente conseguem, incluindo nos países com as menores taxas de fecundidade”.
O último Inquérito Demográfico de Saúde (IDS) do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) indica que, em Moçambique, cada mulher em estado fértil pode ter até 5 filhos (taxa de 4,9).
Por isso, este valor é mais do que o dobro da taxa básica de reposição da população, situada em 2,1, que prevê que cada casal substitua a si mesmo para a manutenção da população, revelando-se, assim, que Moçambique tem registado mais nascimentos do que o esperado.
Apesar da taxa de fecundidade actual indicar uma redução comparativamente às taxas dos censos populacionais de 1997 e 2007 (6,0 e 5,8 respectivamente), o país continua com uma taxa considerada elevada.
Para Eládio Muianga, oficial de programas do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), a situação exige políticas que possam suprir as necessidades da população.
“A definição de políticas visando o alcance da transição demográfica irá nos conduzir ao dividendo demográfico que, para o alcançar, nós precisamos maximizar a população jovem, dando-lhes melhores condições de vida para que os mesmos possam maximizar suas capacidades em termos de mão-de-obra para o país, proporcionando melhores condições para suas futuras gerações”, disse.
Já Inês Raimundo, docente e investigadora da UEM, entende que há vários elementos que estão por trás da elevada taxa de fecundidade, entre os quais destaca-se a baixa instrução da população.
“Se nós tivermos uma instrução de qualidade, (isso) vai permitir que tenhamos maior visão da realidade (…). Não nos esqueçamos que ainda vivemos numa sociedade onde as questões culturais têm um peso significativo. Para algumas famílias, quanto mais filhos tiverem, mais importantes se tornam e a natalidade mostra o poder do homem”.
Por isso, a investigadora lembra que é essencial fazer com que a natalidade não seja uma imposição, mas uma escolha.
“O que se pretende é que haja gravidezes desejadas e seguras, culminando com partos igualmente, seguros, esta é a questão fundamental” acrescentou.
(AIM)
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