
Lisboa, 04 Nov (AIM) – O I Colóquio Internacional sobre Gungunhana (em Moçambique conhecido por Gungunhana) – Importância e Actualidade, organizado pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira, Região Autónoma dos Açores, Portugal, reuniu no fim de semana escritores, incluindo o moçambicano Mia Couto, e académicos de várias nacionalidades.
Gungunhana foi o último rei de Gaza, no Sul de Moçambique. Amado por uns, odiado por outros, Gungunhana foi declarado “herói” em Moçambique, em 1985. Hoje é lembrado como um símbolo contra o imperialismo europeu.
Na ocasião, foi apresentado um podcast narrativo “Gungunhana. Quando Portugal Raptou um Rei” da autoria da jornalista Sara de Melo Rocha, da CNN Portugal, produção da Bruá Podcasts e música de Ailton Matavela, um projecto que leva os ouvintes numa viagem imersiva pelo passado colonial português e pela resistência africana.
Trata-se de um projecto inovador que alia investigação e storytelling para revisitar a complexa história de Gungunhana, o último imperador do Império de Gaza e um dos principais símbolos da resistência à ocupação portuguesa no final do século XIX.
Desenvolvido pela CNN Portugal com o apoio da FLAD, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, a série documental é composta por oito episódios de cerca de 30 minutos, cada um revelando detalhes inéditos sobre a captura de Gungunhana e o seu exílio nos Açores. “Há vários mistérios associados a esta história que vamos tentando desvendar ao longo do podcast”, explicou a autora.
Com entrevistas a historiadores moçambicanos e portugueses mas também investigadores de outras nacionalidades e descendentes de figuras históricas, o podcast remexe nas múltiplas camadas de Gungunhana: o líder de um império, o símbolo de resistência e o prisioneiro no território português.
Sara de Melo Rocha, jornalista da CNN Portugal e responsável pela autoria, investigação, narração e escrita, destacou a motivação pessoal que a levou a desenvolver o podcast. “Como açoriana e alguém que cresceu na Terceira, onde Gungunhana viveu seus últimos anos, senti a responsabilidade de contar esta história, até porque o Leão de Gaza faz parte do imaginário da ilha mas faltava reflectir sobre o impacto da sua presença”, destacou.
Remexer no colonialismo português
O tema do colonialismo português abrange todo o projecto e, tal como explica a autora, explora as várias narrativas coloniais e o papel da memória colectiva na formação da identidade nacional.
“Este podcast não é apenas sobre o passado. É um exercício de escuta e compreensão crítica do presente. Ao recuperar a história de Gungunhana e contextualizá-la no vasto sistema colonial português, pretendemos lançar luz sobre as formas subtis e explícitas em que o colonialismo ainda se manifesta hoje”, explicou a autora.
Disponível nas principais plataformas
O trailer de Gungunhana. Quando Portugal Raptou um Rei já está disponível nas principais plataformas de streaming, oferecendo uma experiência auditiva única e envolvente. Os episódios saem à sexta-feira entre 8 de Novembro e 27 de Dezembro.
Além do trabalho conduzido nos Açores e Portugal continental, a jornalista viajou até Moçambique para trabalho de pesquisa, entrevistas e investigação de arquivo.
Para além de Mia Couto, o evento contou com a presença do investigador do Instituto de Investigação Sócio-Cultural de Moçambique Abel Mazuze e do investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, Victor Barros.
O I Colóquio Internacional decorreu em Angra do Heroísmo entre 31 de Outubro e 02 de Novembro.
Além de vários investigadores açorianos, participaram ainda Eric Morier-Genoud, da Queen’s University Belfast, Irlanda do Norte, Michel Cahen, do Centro Nacional Investigação Científica de França, Andrea Vacha, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), e Maria-Benedita Bastos, da Faculdade de Letras da Sorbonne.
(AIM)
DM