Maputo, 27 Nov (AIM) – Barricadas nas principais avenidas e ruas desertas foi a dura realidade vivida esta quarta-feira (27) um pouco por alguns bairros do município da Matola, sul de Moçambique, em mais um dia de manifestações convocadas pelo candidato presidencial, Venâncio Mondlane.
Os residentes do Bairro Fomento, por exemplo, enfrentaram a alteração, brusca, de sua rotina feita basicamente de casa para os locais do seu “ganha-pão”, e vice-versa.
Um pouco antes das 07h00, o terminal local dos transportes semi-colectivos de passageiros, vulgo “chapas”, registou um movimento desusado de cidadãos que procuravam, a todo custo, cumprir com as suas agendas.
À medida que se aproximava a hora oito, o transporte foi reduzindo até paralisar.
Venâncio Mondlane, que se encontra em parte incerta, convocou a paralisação da circulação de viaturas, entre as 08h00 e 16h00, como forma de manifestar contra os resultados eleitorais preliminares anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que aguardam validação pelo Conselho Constitucional (CC).
No entanto, a paralisação da circulação de viaturas não obedeceu ao programado por Mondlane, que consistia em abandonar os veículos no meio das vias rodoviárias. A paralisação foi forçada por manifestantes através de barricadas, entre outras formas que impediam a livre circulação.
O bloqueio ocorreu, igualmente, em alguns locais da estrada com portagens, a EN4, importante rodovia que liga as cidades de Maputo e Matola. A mesma estrada estabelece ligação com a vizinha Africa do Sul.
Alguns transportadores inflacionaram, para o triplo, o custo normal da passagem, para quem quisesse viajar para a cidade de Maputo, até um pouco antes das 07h00.
A viagem de “chapa” entre o bairro Fomento, na Matola, e cidade de Maputo, custa, normalmente, 18 meticais, mas nesta quarta-feira a passagem chegou aos 50 meticais (o dólar equivale a 64 meticais).
Outros viram-se forçados a percorrer grandes distâncias na tentativa de conseguir o transporte em várias paragens antes do terminal.
Depois das 08h00, a maior parte das ruas do Fomento ficaram desertas, apesar de parte considerável de estabelecimentos comerciais ter aberto.
“O meu irmão saiu por volta das 05h00 da manhã. Telefonou-me e disse ter conseguido chegar à cidade de Maputo. Eu estou aqui (terminal do Fomento) desde as 06h00. Mas até este momento (07h15 manhã) não apanhei “chapa”. Não tenho esperança de chegar à cidade onde trabalho”, disse Rosa Florinda.
Lamentou o facto de a paralisação atingir os que nem sequer se envolvem na vida política. “Quero ir trabalhar. Mas sou obrigado a não ir. Não devia ser assim”.
Principais ruas, como a que observa grande fluxo de “chapas”, por exemplo na zona da Zuid, foram bloqueadas, o que aumentou o medo de tentativa de transitar por elas.
No entanto, por volta das 16h00, o movimento inverso de viaturas a escalar o bairro Fomento, a partir de outros locais da Matola e da cidade de Maputo, começou a fluir, mas maioritariamente constituído por particulares. Alguns ostentavam panfletos com dizeres como “povo no poder” como forma de esquivar possível retaliação dos manifestantes.
“Consegui voltar da cidade de Maputo, graças a um vizinho que superlotou a sua viatura ligeira. Mas o meu filho viu a sua defesa de fim de curso superior remarcada para a próxima semana. A continuar assim, ele vai adiar a defesa do curso mais do que duas vezes”, disse, lamentando um residente local.
Não foram reportados, a nível local, casos de confrontação entre manifestantes e as forças de defesa e segurança.
As manifestações poderão ocorrer até sexta-feira, segundo convocou Venâncio Mondlane, através do seu Facebook.
Venâncio Mondlane não compareceu, terça-feira (26), no diálogo promovido pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, juntando os quatro candidatos presidenciais nas últimas eleições gerais. O objectivo do encontro era encontrar formas de acabar com a violência pós-eleitoral em Moçambique.
(AIM)
Mz/sgBarricadas nas estradas da cidade da Matola para impedir a circulação rodoviária