
Matola, 21 Out (AIM) – Alguns cidadãos do município da Matola, sul de Moçambique, afirmaram que não se fizeram à rua, esta segunda-feira (21), por medo de serem vítimas de violência que muitas das vezes caracteriza manifestações alegadamente populares.
O candidato presidencial, Venâncio Mondlane, convocou para esta segunda-feira uma paralisação geral das actividades como forma de contestar os resultados das eleições gerais e das assembleias provinciais de 09 do corrente mês de Outubro.
No entanto, a Comissão Nacional da Eleições (CNE) ainda não anunciou o apuramento geral que também carece de validação pelo Conselho Constitucional (CC).
O bairro do Fomento, na cidade da Matola, é um dos locais em que muitos cidadãos preferiram estar em casa ou circular próximo das suas residências por temer efeitos da violência, nomeadamente bloqueio das vias, queima de pneus, arremesso de objectos, saque de bens públicos e privados, entre outras formas acatadas por alguns manifestantes.
Até por volta do início da tarde desta segunda-feira, grande parte de estabelecimentos, incluindo escolares e comerciais, continuavam fechados, e os transportes semi-colectivos, vulgo ‘chapas’, praticamente inexistentes, e os poucos a circular faziam-no também com poucos passageiros.
Mertina Tembe, utente dos ‘chapas’ na rota Fomento (Matola)-Museu (cidade de Maputo), disse ter desistido de se deslocar a capital moçambicana para fins de negócio quando, logo pela manhã, se fez a rua e constatou que praticamente ninguém circulava.
“Tentei resistir. Fui até ao terminal dos ‘chapas’ no Fomento onde encontrei apenas três pessoas que me informaram que estavam há mais de uma hora sem que aparecesse transporte”, explicou.
Em conversa com a AIM, a fonte lembrou que, há alguns anos, teimou em ir à cidade de Maputo, num dia em que circulavam informações sobre manifestações de repúdio “ao elevado custo de vida, associado à subida dos preços de combustíveis”.
“Fui de chapa, tranquilamente. Mas o regresso foi a pé, percorri cerca de 15 quilómetros no meio de disparos, pneus queimados, arremesso de objectos … foi muito horrível em que até vi pessoas a contrair ferimentos quando caminhavam a pé de regresso às suas casas”, afirmou.
Joaquim Rafael, outro cidadão interpelado a circular pela avenida 25 de Setembro, no bairro Fomento, disse ter saído de casa na zona da Machava-sede, a pé, para “Cinema 700” [na Matola].
Contou que durante o percurso deparou, na zona da Zuid, na avenida das Indústrias, com uns jovens a queimar pneus. “Fiquei com medo de continuar, mas resisti. Tenho que chegar ao meu serviço”.
Um outro cidadão, proprietário de um salão local de beleza, lamentou o sacrifício que empreendeu, no meio de incertezas de segurança, para sair de casa e abrir o seu estabelecimento que ficou grande parte da manhã “as moscas”.
Disse que alguns clientes telefonaram a informar que “tinham medo de sair de casa e que apareceriam logo que se confirmar o retorno a normalidade”.
Disse que em condições normais, o seu estabelecimento é concorrido também às segundas-feiras.
A mesma fonte não detalhou se o problema tinha a ver ou não com o apelo feito pelo candidato presidencial, Venâncio Mondlane.
“Não posso assegurar. Mas acredito que as pessoas têm mais medo das consequências da violência. Neste tipo de circunstâncias sofrem mais os inocentes, aqueles que não tem nada a ver com as manifestações”, anotou.
No entanto, a polícia moçambicana (PRM), a nível da província de Maputo, descreveu de tranquilo o ambiente vivido na região, não obstante alguns focos de tentativa de obstrução da ordem e tranquilidade públicas.
“Vive-se um ambiente de tranquilidade e a Polícia está posicionada no terreno”, disse Rodrigues Chabana, porta-voz da PRM na província de Maputo.
Com efeito, até ao meio da tarde já se podiam ver alguns chapas a circular nas rotas Fomento-Museu, e Machava-Mozal, através da avenida 25 de Setembro, na Matola, ao longo do qual localiza-se o Comando Provincial da Polícia.
Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado pelo Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), também justificou a convocação da paralisação como repudio ao assassinato, sábado, do seu assessor jurídico, Elvino Dias, e do mandatário nacional do PODEMOS, Paulo Guambe.
(AIM)
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