Matola, 09 Dez (AIM) – Muitos cidadãos que vivem ou trabalham na cidade da Matola, sul de Moçambique, foram esta segunda-feira (09) colhidos de surpresa pelo endurecimento, repentino, das medidas que norteiam a presente fase de manifestações denominadas “todo o terreno (4×4) ”.
Moçambique é palco desde o passado dia 21 de Outubro de protestos, em alguns casos violentos, culminando com a morte de cidadãos e destruição de bens públicos e privados, convocados pelo candidato presidencial, Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar, PODEMOS.
A presente quarta fase da quarta etapa de manifestações pós-eleitorais, que decorre desde a passada quarta-feira (04) com o término previsto para dia 11 desta semana, inclui, entre outras acções, a paralisação da circulação de viaturas entre oito e 16 horas locais.
Com esta medida, muitos cidadãos arriscaram para chegar aos seus postos de trabalho e outros locais de interesse pelo menos até oito horas, para regressarem às suas residências depois das 16 horas.
No entanto, esta segunda-feira (09) muitos dos matolenses foram colhidos de surpresa quando chegaram à rua porque grande parte dos acessos já tinham sido bloqueados por volta das cinco horas locais da manhã.
O cidadão Vasco Tembe disse à AIM ter saído de casa preparado para cumprir com o estipulado na presente etapa das manifestações porque nada indicava que haveria alterações antes de quarta-feira (11).
“Neste domingo acompanhei a ‘live’ de Venâncio Mondlane. Não tinha muitas alterações de vulto. Ele disse, de forma repetida, que nenhuma portagem instalada oficialmente em Moçambique devia cobrar taxas. Não ouvi, em nenhum momento, alteração da hora da paralisação da circulação de viaturas”, afirmou.
Tembe disse acreditar na existência de mais do que um comando na convocação e execução dos protestos.
A fonte admitiu que Venâncio Mondlane, que se encontra em parte incerta, pode estar a dizer algo diferente, às populações, do que transmite ao grupo encarregue de liderar as manifestações no terreno.
Na rua de Mutateia, no bairro Fomento, a AIM conversou com alguns jovens que decidiram montar, num dos troços, barricadas para impedir a passagem de viaturas.
“O nosso presidente [Venâncio Mondlane] falou da necessidade de se intensificar as manifestações por ter sido alvo de mais uma tentativa de assassinato. Não temos outra forma senão endurecer os protestos”, disse, falando sob condição de anonimato.
Sobre a cobrança de valores para permitir a passagem de viaturas nos locais com barricadas, a fonte disse, sem detalhes, que o “presidente Venâncio não é contra essa medida”.
Com efeito, na sua “live” este domingo, através da sua página no Facebook, Venâncio Mondlane “decidiu” que nenhuma portagem oficial devia cobrar taxas.
Disse que o dinheiro cobrado, por exemplo, nas várias portagens instaladas na EN4 (estrada que liga a cidade de Maputo e a África do Sul), na circular de Maputo, nas estradas Maputo-vila fronteiriça da Ponta de Ouro, e Beira-Machipanda (na fronteira com Zimbabwe) beneficia a agendas de um pequeno grupo de cidadãos.
Além da alteração da hora do bloqueio da circulação de viaturas, algumas áreas da Matola, caso da zona da Machava, manifestantes obrigaram o encerramento da actividade comercial, sob ameaça de incendiar as lojas de qualquer comerciante que se opusesse à medida.
“Se mandam encerrar as lojas como ‘e que vamos viver?”, questionou a cidadã Arlete Ubisse, que disse ter caminhado a pé da Machava até a zona de Soares da Costa, no Bairro Fomento.
Ubisse disse recear que os próximos dias sejam um caos. “Os manifestantes agem como querem. As autoridades não se fazem sentir para nos garantir segurança e certeza de que a situação vai melhorar”, afirmou, lamentando.
No bairro de Tsalala, os apoiantes de Venâncio Mondlane tentaram assaltar um supermercado, nas proximidades do mercado local, mas a segurança privada em serviço evitou que ocorresse o saque. Mesmo assim saquearam um pequeno estabelecimento comercial.
Contrariando ao ambiente calmo que caracterizou o fim-de-semana os bairros vizinhos de Tsalala, Malhampswene, Sikwama e Mussumbuluko, esta segunda-feira foi de muita agitação, desde as primeiras horas do dia até ao anoitecer, tendo sido montadas barricadas nas principais vias, incluindo na EN4.
Venâncio Mondlane e o partido PODEMOS, que submeteram recurso ao Conselho Constitucional (CC), exigem a reposição da “verdade eleitoral” que passa por atribuir-lhes a vitória nas eleições gerais de 09 de Outubro do corrente ano. Ambos opõem-se a possível anulação e consequente repetição das eleições.
A centralização nacional dos resultados eleitorais, anunciada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), dão vitória ao partido Frelimo e ao seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
(AIM)
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