Maputo, 08 Dez AIM) – A semana passada foi marcada por uma escalada de protestos, para um nível preocupante para a economia nacional, afectando directamente os megaprojectos, com um peso assinalável no Produto Interno Bruto.
Os megaprojectos são responsáveis por mais de 70 por cento das exportações de Moçambique. A fundição de alumínio a MOZAL, a petroquímica Sasol e a Kenmare, que explora areias pesadas, são disso o exemplo.
Sexta-feira um grupo de manifestantes, maioritariamente constituído por população da localidade de Topuito, no distrito de Larde, província de Nampula, invadiu o estaleiro da mineradora irlandesa Kenmare que explora areias pesadas naquele no distrito de Moma.
Os manifestantes impediram que avioneta que transporta trabalhadores e executivos da empresa de pousar no aeródromo local.
Relatos no local referem que as principais vias de acesso à mina e ao acampamento da empresa foram bloqueadas pelos protestantes apoiantes do candidato presidencial, Venâncio Mondlane.
A acção dos manifestantes culminou com a vandalização da esquadra da Polícia de acordo com imagens que circulam na internet.
Os manifestantes obrigaram o administrador local e o director-geral da Kenmare a rubricarem um acordo de compromisso acelerar a construção da ponte sobre o Rio Larde, infra-estrutura considerada crucial para as populações locais.
A Kenmare é uma das multinacionais que soma lucros avultados em Moçambique, com dados apontando que, só no ano de 2023, a empresa facturou 27,5 biliões de meticais com as suas operações.
Já na quarta-feira, um grupo de residentes no município da Matola, decidiu fechar totalmente a estrada que dá acesso ao Parque Industrial de Beleluane, onde está situada a MOZAL, empresa produtora de alumínio responsável por parte significativa do total das exportações de Moçambique.
Os manifestantes decidiram colocar barricadas e queimar pneus na via que faz nó com a Estrada Nacional número 4 (EN4) principal via utilizada pela empresa MOZAL para transportar o alumínio da fábrica ao Porto de Maputo, para os mercados de exportação.
Os residentes agiram dessa forma para, alegadamente, exprimirem a sua revolta com a atitude de um agente da polícia a paisana que baleou mortalmente em baixo da referida ponte, um menor de 13 anos de idade, que se encontrava nas bermas da estrada junto com manifestantes.
Como consequência, a empresa suspendeu temporariamente a circulação de seus camiões que carregam alumínio por aquela via, situação embaraçosa para a fundição que tem compromissos inadiáveis com os seus clientes.
O Parque Industrial também viveu um dia conturbado, com as empresas sedeadas no parque e os respectivos trabalhadores forçados a usar vias alternativas para sair e os trabalhadores submetidos a longas caminhadas.
A Mozal é um empreendimento conjunto de fundição de alumínio no Parque Industrial Beluluane e faz parte dos “megaprojetos” em Moçambique.
O empreendimento está vocacionado a produção de alumínio exclusivamente para os mercados de exportação, 578 mil toneladas de alumínio e já foi responsável por mais de 50% do peso das exportações.
Ainda na semana, jovens manifestantes, no distrito de Inhassoro, província de Inhambane, colocaram bloqueios na Estrada Nacional Número 1 (EN1), que liga o país de norte a sul. Em Mangungumeta, no distrito de Inhassoro, manifestantes incendiaram infra-estruturas públicas e privadas, incluindo o Comité do Círculo da FRELIMO, partido no poder, a casa do chefe da localidade e a sede local e um posto policial.
A fúria atingiu a multinacional sul-africana a SASOL, que explora gás. Nesta empresa, os manifestantes queixaram-se da falta de responsabilidade social da empresa, que não lhes oferece oportunidades de trabalho na unidade.
Parte da insatisfação expressa pelos manifestantes relaciona-se com alegações de injustiça social por parte da multinacional Sasol, que explora gás natural em Pande e Temane.
Segundo os protestantes, os lucros gerados pela exploração pouco ou nada beneficiam as comunidades locais, que continuam mergulhadas na pobreza.
Por via disso, a empresa está a funcionar a meio gás, devido ao receio de ataques dos manifestantes.
Para melhor explicar o risco que a nova fase dos protestos representa para o país o economista Egas Daniel esclareceu que os megaprojectos representam parte significativa das exportações apesar de contribuírem pouco para as receitas internas.
Para o economista, apesar dos megaprojectos contribuírem pouco para o desenvolvimento das comunidades locais, o ataque aos megaprojectos pode desacelerar o crescimento do PIB, situação que seria catastrófica para o crescimento económico.
“As exportações são a parte positiva do BIP. Com o PIB crescendo ao ritmo mais baixo, há maior probabilidade do aumento dos níveis de pobreza em Moçambique. Se já é difícil converter o actual PIB em desenvolvimento, imagine se estiver a crescer a níveis mais baixos?”, esclareceu.
Alerta que, as exportações estão concentradas nos megaprojectos, que é a base para obtenção das divisas, moeda estrangeira necessária para cobrir as importações.
“No dia que a Mozal, Vulcan, Eni, Kenmare, Sasol e tantas outras empresas não exportar por causa do contexto político adverso, certamente vamos ter pressões no nosso câmbio que neste momento é artificial”, vincou.
(AIM)
PC/sg