Washington, EUA, 30 Dez (AIM)-O ex-inquilino da Casa Branca, Jimmy Carter, que morreu este domingo em Plains, Geórgia, aos 100 anos, segundo o Carter Center, foi sem dúvida o presidente norte-americano mais enigmático da era americana pós-Segunda Guerra Mundial.
Os líderes que alcançam o auge do poder geralmente são indivíduos complicados. Mas Carter era um homem cuja imagem externa era muitas vezes o oposto do que estava por baixo. Ele se esforçou para transmitir simplicidade e humildade, mas era um homem altamente sofisticado, com ego e ambição que ardiam mais do que a maioria, segundo escreve a Associated Press (AP).
Ele morreu em sua casa em Plains, Georgia, de acordo com seu filho James E. Carter III, citado pela CNN.
“As pessoas sempre o subestimam”, disse uma vez Rosalynn Carter sobre o seu marido, relativamente a vida brilhante e a presidência conturbada de Jimmy Carter, acrescentando que o seu marido “parecia meio manso ou algo assim”.
Rosalynn Carter morreu em 19 de Novembro de 2023, aos 96 anos. Os Carters estiveram casados há mais de 77 anos, o casamento presidencial mais longo da história dos EUA. A sua última aparição pública foi no funeral dela em Plains, onde se sentou na primeira fila, numa cadeira de rodas.
“Não preste atenção nesse sorriso. Isso não significa nada”, disse Ben Fortson, secretário de Estado da Geórgia por um período de 33 anos que incluiu o mandato de Carter como governador. “Esse homem é feito de aço, determinação e teimosia.”
Carter foi presidente entre 1977 e 1981. Em 2002 recebeu o Prémio Nobel da Paz.
Jimmy Carter, um democrata, tornou-se o 39º presidente dos Estados Unidos da América quando derrotou, por uma margem tangencial, o ex-presidente Gerald R. Ford em 1976. Cumpriu um único mandato e foi derrotado pelo republicano Ronald Reagan em 1980. Foi presidente entre 1977 e 1981.
Em Fevereiro de 2023, o Carter Center disse que o ex-presidente, após uma série de internamentos hospitalares e de ter sido tratado a uma forma agressiva de melanoma, com tumores que se espalharam para o fígado e o cérebro, interromperia o tratamento médico e iria ficar em casa a receber cuidados paliativos. “O senhor é uma bênção para o nosso país”, declarou a senadora democrata Tina Smith, nessa altura.
Carter, um homem que falava frequentemente da sua fé cristã, era o mais velho presidente norte-americano ainda vivo.
O seu único mandato presidencial foi marcado por importantes acontecimentos no plano internacional. Em 1977, Carter assinou o tratado que assegurou aos Estados Unidos o controlo do Canal do Panamá até 1999.
É considerado o artífice dos Acordos de Camp David que em Março de 1979 conduziram à assinatura do tratado de paz israelo-palestiniano e foi durante a sua liderança que ocorreu a crise da tomada de reféns norte-americanos no Irão em 1979-1980, situação que lhe valeu fortes críticas internas.
Após abandonar a Casa Branca, Jimmy Carter fundou o Carter Center em 1982, para promover o desenvolvimento, a saúde e a resolução de conflitos no mundo. Natural da Georgia, estado que o viu tornar-se governador, Jimmy Carter era caracterizado como um “viajante incansável” que podia ser encontrado em todo o lado: do México ao Peru, passando pela Nicarágua e até Timor-Leste.
Em 2002 recebeu o Prémio Nobel da Paz, designadamente “pelas décadas de esforços infatigáveis com o objectivo de encontrar soluções pacíficas aos conflitos internacionais”.
“Jimmy Carter não ficará provavelmente na história americana como o Presidente mais eficaz, mas é certamente o melhor ex-presidente que o país jamais teve”, declarou em Dezembro de 2002 o presidente do Comité Nobel, Gunnar Berge, durante a cerimónia solene de entrega do galardão.
Nessa altura, os Estados Unidos intensificavam os preparativos para uma eventual intervenção armada contra o regime iraquiano de Saddam Hussein e Carter não esqueceu o assunto no seu discurso de aceitação do Nobel. “No caso das grandes potências, aderir ao princípio da guerra preventiva poderia criar um precedente que pode ter consequências catastróficas”, declarou na altura.
A ligação entre Jimmy Carter e o actual Presidente norte-americano, Joe Biden, percorre várias décadas. Em 1976, Joe Biden, então um jovem senador de Delaware, foi um dos primeiros representantes a apoiar Carter na sua corrida presidencial.
Devido aos seus problemas de saúde, Carter não compareceu à cerimónia de investidura de Biden em Janeiro de 2021, na qual participam tradicionalmente os ex-Presidentes dos Estados Unidos. Poucos meses mais tarde, Jimmy Carter recebeu Joe Biden na sua cidade natal, em Plains na Georgia, onde vivia desde que tinha saído de Washington.
Na altura, surgiu com a mulher Rosalynn, com quem percorreu um casamento de mais de sete décadas, numa imagem ao lado do casal presidencial Biden, Jill e Joe Biden.
A paragem de Biden em Plains fez parte de uma viagem pelo estado da Georgia para assinalar os seus primeiros 100 dias no cargo. “Sentámo-nos e falámos sobre os velhos tempos”, disse então Biden.
(AIM)
AP/CNN/DM