
Foto família da II Conferência sobre os Serviço Social em Moçambique
Maputo, 03 Jul (AIM) – A Associação dos Assistentes Sociais de Moçambique (ASMO) está a busca de mecanismos para fortalecer o trabalho social no país, particularmente à eliminação da violência contra crianças, promoção da justiça social e resiliência comunitária.
Para o efeito, a ASMO reuniu-se, hoje, em Maputo, na II Conferência sobre os Serviço Social em Moçambique.
“O serviço social deve ocupar de forma sólida o seu merecido espaço na estruturação das respostas sociais que Moçambique precisa para avançar no combate à pobreza, exclusão, desigualdades e vulnerabilidade”, vincou esta quarta-feira (03), em Maputo, a ministra do Trabalho, Género e Acção Social, Ivete Alane.
No evento sob o lema “Fortalecer a profissão, construir futuro: promover a formação e intervenção do serviço social”, Alane disse ser insubstituível a intervenção do serviço social nos cuidados dos que mais precisam, pois asseguram a construção de um Estado verdadeiramente justo e inclusivo.
“O serviço social é hoje mais necessário do que nunca, vivemos em tempos marcados por múltiplas vulnerabilidades, pobreza, migração, urbanização acelerada, explosão demográfica, mudanças climáticas e violência baseada no gênero e desigualdades inter-geracionais. Todas essas questões exigem respostas técnicas, humanas e coordenadas e os assistentes sociais devem ser actores centrais dessas respostas”, explicou.
Acrescentou ainda, serem estes os primeiros a chegar às comunidades afectadas por situações de emergência, os que acompanham as vítimas de violência, crianças em risco, pessoas idosas desamparadas e jovens sem oportunidades, por isso a sua actuação é transversal.
“Eles têm o seu lugar nas escolas, nos hospitais, nos centros de saúde, de acolhimento, tribunais, prisões, bairros, organizações da sociedade civil e em todas as outras instituições públicas e privadas, actuando como elos de ligação entre o cidadão e os seus direitos”, acrescentou.
Alane reconheceu muito já ter sido feito, “mas temos um longo caminho por percorrer”, disse a governante. “O serviço social ainda enfrenta problemas de identidade e reconhecimento, especialmente nas províncias e distritos, onde o seu papel não é tão reconhecido, ou é substituído por um profissional sem formação na área, e se sentem desamparados, sem uma carreira clara, enquadramento funcional e as condições necessárias para o seu trabalho.
Destacou ainda as intervenções do Governo neste sector, no quadro da implementação da política de Acção Social, para garantir que os profissionais de serviço social sejam cada vez mais integrados nos programas, planos e serviços centralizados, ” e estamos igualmente atentos à necessidade de consolidar os mecanismos de formação”.
Às instituições de ensino, destacou o seu papel decisivo na formação dos assistentes sociais, para que respondam, de facto, as exigências da realidade moçambicana e as transformações globais em curso.
Alane partilhou experiências de países como Portugal, Brasil e Ghana na criação de uma Ordem de Assistentes Sociais. “Trata-se de um passo estratégico para proteger a identidade da profissão, garantir a qualidade de serviços prestados e defender o cumprimento da ética profissional.
Com estas experiências, a governante desafiou a AASMO a criar a Ordem, “que poderá marcar um novo ciclo de maturidade institucional para o serviço social em Moçambique”.
Já o gestor da seccão de Protecção Infantil do UNICEF, Yuichiro Yamamoto, diz ser crítica a disponibilidade de trabalhadores sociais qualificada em Moçambique, que hoje conta com um profissional para cada 75 mil habitantes, “muito aquém da referência regional de um para cada 5 mil a 10 mil, comprometendo a capacidade do país de garantir respostas integradas, comunitárias e eficazes”.
Prosseguindo, apontou que 77% das crianças moçambicanas sofrem de pobreza, seja monetária, multidimensional ou ambas, e uma em cada quatro meninas sofre violência física antes dos 18 anos, e mais de um milhão de pessoas foram deslocadas devido à situação de conflito no norte do país que, somados à frequência de desastres naturais, colocam em risco o bem-estar e os direitos das crianças e famílias.
Yamamoto reiterou algumas prioridades críticas para o avanço deste sector em Moçambique, desde estabelecer marcos normativos e políticos claros para a regulamentação, certificação, supervisão e progressão de carreira dos trabalhadores sociais.
Além disso, deve-se priorizar o financiamento e o treinamento dos trabalhadores sociais a médio e longo prazo, tendo em devida consideração as dificuldades financeiras actuais; Integrar os trabalhos sociais em sectores-chave como educação, saúde, protecção social e justa, promovendo abordagens intersectoriais.
Acrescentou ser crucial o reconhecimento do papel dos para-profissionais e mecanismos comunitários, garantindo sua formação, supervisão e ligação com estruturas formais, bem como o fortalecimento da colaboração entre Governo, academia, sociedade civil, redes profissionais e doadores, criando uma liderança nacional inclusiva e estratégica para este sector.
Reafirma por último, o seu compromisso político e financeiro no fortalecimento da força de trabalho social para a construção de um sistema de protecção baseado em direitos, equidade e cuidado.
(AIM)
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