Nampula (Moçambique), 26 Nov (AIM) – A província nortenha moçambicana de Nampula registou cerca de 1.800 casos de violência contra a mulher e rapariga, nos primeiros nove meses do corrente ano.
No mesmo período, segundos oficiais, a província registou 380 casos de violência sexual, contra 438 de igual espaço temporal de 2023.
A informação foi prestada por Armando Cumbe, psicólogo clínico que chefia o Gabinete de Atendimento Integrado às Vítimas de Violência, (GAIVV), no Hospital Central de Nampula, no âmbito do Dia Internacional para Eliminação da Violência contra as Mulheres, assinalado esta segunda-feira (25).
Na ocasião, Cumbe destacou que os casos de violência contra mulheres e raparigas continuam a ser preocupantes, pelo que a data constitui uma oportunidade de reflexão sobre a violência baseada no género.
Contudo, de acordo com Cumbe, nos primeiros nove meses deste ano, foram registados, no HCN, 47 casos de agressão física, contra 152 em 2023.
Ainda nesta segunda-feira, a directora provincial do Género, Criança e Acção Social, Albertina Ussene, lançou a campanha de 16 dias de activismo contra a violência baseada no género.
Sob o lema “Vamos Todos Prevenir a Violência Contra Mulheres e Raparigas”, a campanha visa consciencializar a sociedade sobre os efeitos nefastos decorrentes destas práticas que violam os direitos humanos.
“As pessoas estão mais abertas e informadas, contudo, nosso principal desafio continua sendo o empoderamento das mulheres através da educação, porque uma mulher escolarizada conhece melhor os seus direitos”, anotou.
A propósito desta data, a AIM ouviu algumas mulheres que revelaram o desconhecimento da efeméride, mas conscientes da violência que atinge esta camada social, sem distinção.
“Eu não sabia que havia uma data específica para recordar esta situação, por que passam mulheres e raparigas. Há muito silêncio sobre isso, pior nestes dias em que todas as atenções estão voltadas para os assuntos pós-eleitorais”, disse Madalena Augusto, residente na zona dos Limoeiros, zona urbana da cidade de Nampula.
Já Rosalina Alberto, 40 anos de idade, residente no bairro periférico da Memória e vendedora ambulante de água fresca, lamentou a violência contra a mulher, considerando ser “um acto de grave”.
“Estes dias tenho assistido a muitas lutas entre casais, lá no meu bairro, qualquer coisa é motivo de brigas e muitas mulheres não sabem onde ir apresentar queixa. Também há outro problema, se for queixar-se e prenderem o marido, terá problemas para sobreviver e com a família dele”, afirmou.
Mais esclarecida apresentou-se Esperança Adamo, de 30 anos de idade, dona-de-casa e residente no bairro do Matadouro, que incentiva as mulheres a terem meios de subsistência e a se defenderem dos agressores, encaminhando as suas inquietações às esquadras policiais.
“Muitas mulheres não sabem onde se dirigir para apresentar queixas contra os seus agressores, sejam familiares ou estranhos. As organizações de defesa dos direitos das mulheres, estruturas comunitárias e activistas devem continuar a espalhar essa informação”, sugeriu.
Na província de Nampula, a mais populosa de Moçambique, segundo dados estatísticos, dos 6.490.271 habitantes, 3.326.418 (51.3 por cento), são mulheres, enquanto 3.163.858 (48 por cento) são homens.
O Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher celebra-se, anualmente, a 25 de Novembro, para denunciar estas práticas em todos os países para sua erradicação.
A data deriva do movimento feminista latino-americano, em 1981, para marcar o dia em que foram assassinadas as irmãs Mirabal, na República Dominicana.
Em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas, através da resolução 54/134 assumiu o 25 de Novembro como data para a jornada de reivindicação, convidando governos, organizações internacionais e não governamentais a realizarem actividades com o intuito de sensibilizar a opinião pública sobre o problema da violência contra a mulher.
O combate contra a violência de género tem uma importante dimensão política, afirmam especialistas de diferentes áreas, sendo que defendem que a educação é uma resposta adequada da justiça para que se evite a impunidade.
Segundo denuncia a ONU, a forma mais comum de violência vivenciada por mulheres a nível mundial é a física, infringida por um parceiro íntimo, o que inclui agressões, relações sexuais forçadas ou abusadas de alguma outra maneira.
Outras formas comuns de violência são também o tráfico de mulheres, mutilação genital, assassinato por causa de dote, o “homicídio por honra” e a violência sexual nos conflitos armados.
Até 70 por cento das mulheres sofreram violência ao longo da sua vida. (AIM)
(Rosa Inguane(RI)/dt