
"África precisa de financiamento para ultrapassar diversos obstáculos" - João Lourenço
Lisboa, 27 Jul (AIM)- O chefe de Estado angolano e Presidente em exercício da União Africana, João Lourenço, reafirmou este fim-de-semana, em Lisboa, que África precisa de financiamento para ultrapassar os diversos obstáculos que condicionam a implementação de projectos estruturantes nos domínios dos transportes, telecomunicações, agricultura, saúde, educação, ciência e tecnologia, energia, entre ouros sectores chave.
O presidente angolano realçou que estes sectores são pilares essenciais para o desenvolvimento sustentável das nações africanas e que para lhes dar o devido destaque, a União Africana (UA) decidiu organizar, em Outubro próximo, em Angola uma conferência internacional subordinada ao tema “Infra-estruturas como Factor de Desenvolvimento em África”.
O objectivo do evento será atrair parcerias interessadas em envolver-se com o continente africano, num quadro de vantagens mútuas, visando a concretização de um sonho histórico dos povos africanos.
João Louro, em visita oficial a Portugal, participou com o seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, no 8º Fórum EurAfrican, que decorreu sexta-feira (25) e sábado (26), em Lisboa, promovido pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, reunindo líderes políticos políticos, empresariais, investigadores e outras personalidades dos mais diversos sectores sobre oportunidades entre Europa e África. Moçambique esteve presente no encontro representado pela Embaixadora do país em Portugal e na CPLP; Stella Pinto Novo.
O discurso de João Lourenço, este sábado (26), na Universidade Nova School of Business and Economics (Nova SBE), em Carcavelos (Lisboa), não foge muito aos pronunciados na Cimeira do BRICS, grupo de países de mercado emergente e foro político, integrado pelo Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, realizada no dia 7 de Julho, na cidade brasileira de Rio de Janeiro, e na 7ª Reunião Semestral de Coordenação entre a União Africana, as Comunidades Económicas Regionais e os Mercados Regionais, que decorreu em Malabo, a capital da Guiné Equatorial, no dia 13 de Julho.
Na Nova SBE (em Lisboa), João Lourenço recordou que a Europa pode “fazer mais e melhor” em África, frisando que “o potencial é grande e existem oportunidades” de investimento em sectores como a energia ou as infra-estruturas que trariam benefícios mútuos aos dois continentes.
Depois de ouvir as palavras do seu homólogo João Lourenço, Marcelo Rebelo de Sousa concordou que há um conjunto de sectores nos quais a cooperação entre os dois continentes (Africano e Europeu) “é inevitável”, como digital, “alta tecnologia” ou transição energética, e apelou para um “novo empenho europeu na compreensão de África”.
“Porque é que a Europa demora tanto tempo a perceber coisas que são óbvias? Porque a Europa tem-se formado aos bocadinhos e com uma atenção muito grande à geopolítica interna”, considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa também respondeu a sua própria pergunta dizendo: União Europeia (UE) “às vezes, está muito concentrada, concentrada demais em si mesma, no seu umbigo”, em questões como os alargamentos a outros Estados-membros, o funcionamento institucional, as crises internas e, “agora, recentemente, a guerra na Europa e o investimento em Defesa”.
“De cada vez que a Europa é chamada a concentrar-se em si, perde a visão do mundo, até para explicar porque é que certas questões que aparentemente são europeias, são questões mundiais. E perde a visão, desde logo, das relações com África, e isso tem acontecido muitas vezes”, disse.
É por esse foco particular nas questões internas que “a Europa é comercialmente, no somatório das suas realidades, muito forte, mas não aparece tantas vezes quanto necessário como potência internacional mundial, nomeadamente no plano económico e financeiro”, acrescentou o presidente português.
Neste ponto, Marcelo Rebelo de Sousa abordou a 25.ª cimeira UE–China, que se realizou esta quarta-feira (23), em Beijing, para sublinhar que viu “com apreço” essa reunião e frisar que não há “razão nenhuma para a Europa não estar atenta à cooperação económica e financeira com a China”.
Marcelo salientou que isso conheceu “anos de paragens”, mas manifestou esperança de que a Europa esteja a começar a perceber que “virar-se para fora é ser maior do que virar-se para dentro”.
“E, ao virar-se para fora, esse fora (…) é um fora dentro, porque é uma realidade que existe fora e dentro da Europa, que se chama África. Parece uma evidência”, disse, citado pela imprensa lisboeta.
Marcelo Rebelo de Sousa abordou ainda o facto de Angola deter actualmente a presidência rotativa da União Africana (UA), para elogiar João Lourenço por ter assumido “três linhas estratégicas”: a defesa da paz, “uma visão continental com eixos estratégicos de mobilidade a todos os níveis” e uma “mudança de financiamento”.
“Estas três grandes linhas são linhas que só podem ser, e têm de ser compreendidas pela Europa e pela UE, desde já na cimeira entre a UE e a UA”, em Novembro, em Luanda, disse.
Para Marcelo, numa altura em que a “moda parece ser não o multilateralismo” mas “o fechamento”, essa cimeira pode ser fundamental para a Europa perceber melhor a importância da parceria com África e a importância que tem “na balança de poderes mundiais, neste momento e no futuro”.
“A importância que tem na construção de um sistema internacional com regras, com valores e com princípios fiáveis para a economia internacional poder funcionar. Tudo isso está a ser construído”, defendeu.
No final da conversa, instado a deixar uma mensagem, enquanto líder europeu, a África e à UA, Marcelo Rebelo de Sousa disse estar “muito confiante no empenhamento europeu, no que é um salto qualitativo na União Europeia” e numa “nova fase” nas relações entre os dois continentes após a cimeira de Novembro.
(AIM)
DM