
Actriz e activista moçambicana para os direitos humanos, Gigliola Zacara
Maputo, 14 Fev (AIM) – A actriz e activista moçambicana, Gigliola Zacara, que, recentemente, lançou um filme-documentário sobre a Violência Baseada no Género (ECOS), defende uma maior massificação dos direitos humanos no país.
Zacara, que também é realizadora, entende que ainda persiste no seio da sociedade moçambicana um certo desconhecimento dos direitos humanos, razão pela qual defende a adopção de iniciativas para a sua promoção.
“São poucos os cidadãos com este conhecimento (direitos humanos). Por isso, é importante que nós os que temos, a gente partilhe, para que as pessoas estejam a viver numa sociedade mais consciente”, disse terça-feira em Maputo, a actriz, falando em entrevista a AIM.
A actriz destaca, entre outros, o papel dos media e dos líderes comunitários nas regiões rurais na difusão dos direitos humanos e propõe a introdução destas matérias no currículo nacional de ensino.
“Os líderes locais são mais conscientes e interventivos. Aliás, até trabalham como verdadeiros activistas, [mas] o que precisamos é uma maior comunicação, uma maior mobilização para que a sociedade, seja ela rural ou urbana, não se cale”, defendeu.
Diz que a violação dos direitos humanos nem sempre ocorre por desconhecimento por parte das vítimas, mas pelo medo de represálias.
“Há casos, sim, que é uma questão de desconhecimento, mas também há muitos casos que é uma questão de receio”, apontou.
“A violação dos direitos humanos não é só aquele fenómeno que todos nós conhecemos, que é mais rural, mais agressão física. É um fenómeno da que também ocorre num contexto em que estamos todos envolvidos, pois a agressão física, verbal, moral também é violação dos direitos humanos”, sublinha.
Disse que como artista já sofreu assédio e “agredida verbalmente e moralmente”.
Explicou que o facto de ser “educada e por ser uma pessoa ciente dos seus direitos, soube reagir a estas violações, posicionar-se em todos os momentos e tomar decisões mais adequadas para se proteger, bem como as demais pessoas na sua companhia.
Diz que não basta que “a Gigliola denuncie ou encontre uma saída para os seus problemas, é preciso também consciencializar outras pessoas para saberem ultrapassar este tipo de situações, elas também tenham força para denunciar ou pelo menos de partilhar com alguém que possa ajudar”.
“Eu acho que temos que trabalhar muito, pois ainda não atingimos o estágio ideal [como país] porque continuamos a permitir a ocorrência de muitas violações. Aliás, muitas dessas violações acabam não tendo seguimento”, defende.
Aponta também para o uso da arte, cinema entre outros meios como forma de educar a sociedade, pois ainda “temos um longo caminho por percorrer”.
Por isso, o documentário “Ecos” de Zacara aborda a violência que as mulheres reclusas estiveram expostas ao longo das suas vidas desde a tenra idade até a fase adulta. Foi o filme mais assistido em Novembro e Dezembro de 2023 na plataforma moçambicana de Streaming, NetKanema.
O filme foi usado em fins de 2023 pelo Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP) como uma das ferramentas para a capacitação agentes penitenciários sobre a importância do atendimento devido as mulheres reclusas que passaram por situações de violação dos seus direitos.
(AIM)
CC/sg
* A presente historia substitui a anterior intitulada “Actriz e activista Gigliola Zacara condena violência na Prisão Feminina de Ndlavela