Maputo, 05 Abr (AIM) – O Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA, sigla em inglês) Moçambique, uma organização não governamental vocacionada ao desenvolvimento do sector de comunicação social, repudia, nos termos mais veementes, a interferência do adido de imprensa do Presidente da República, Arsénio Herinques, no trabalho jornalístico.
Em comunicado enviado hoje à AIM, o MISA frisa que os adidos de imprensa não devem limitar o trabalho da imprensa quando assim entenderem e a seu bel prazer.
Pelo contrário, o jornalismo é uma actividade nobre, que se rege pela Constituição, e que está acima de qualquer adido de imprensa, e se rege de princípios que incluem a independência dos jornalistas no exercício da sua profissão.
A reaccao do MISA Moçambique surge pelo facto de ter chegado a seu conhecimento, o escorraçamento, ocorrido quinta-feira (04) perpetrado por Herinques, de jornalistas que se encontravam a fazer cobertura da II Sessão Ordinária do Comité Nacional da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) um dos órgãos sociais da Frelimo, partido no poder.
O evento teve lugar no município da Matola, província de Maputo.
Tudo começou quando o membro da ACLLN e veterano da luta de libertação nacional, Óscar Monteiro, exigiu ao Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, que igualmente é Presidente da República, a inclusão, na agenda da reunião, do debate sobre os pré-candidatos do partido para as eleições presidenciais a terem lugar a 09 de Outubro próximo.
Para Monteiro, a agenda da reunião da ACLLN não podia se limitar a questões administrativas da Associação, passando à margem de uma das prioridades do momento, o que chamou por “elefante branco” presente na sala, que é a indicação do sucessor de Nyusi.
Monteiro ainda estava a discursar quando as imagens televisivas começaram a indicar turbulência na captação até que, finalmente, o sinal foi interrompido.
“Afinal, era Arsénio Henriques, antigo jornalista da STV [estação televisiva moçambicana privada] agora adido de imprensa do PR [Presidente da República] a interferir, grosseiramente, no trabalho dos repórteres convidados e credenciados pelo partido Frelimo para a cobertura do evento. Arsénio Henriques começou por virar, ele próprio, as câmaras das televisões, antes de ordenar a retirada imediata de todos os jornalistas que se encontravam na sala que acabava de ficar gelada com os pronunciamentos de Óscar Monteiro”, lê-se no comunicado.
Um registo em formato áudio mostra que, de facto, Monteiro “ainda estava a confrontar o Presidente [da Frelimo] sobre a sucessão, quando os jornalistas foram compulsivamente retirados por Arsénio Henriques. Vários jornalistas que testemunharam o caso contaram, ao MISA Moçambique, ter sido um episódio humilhante, embaraçoso e de total falta de respeito pela classe”.
O MISA reconhece o direito a Frelimo, ou a qualquer outra entidade de realizar reuniões à porta-mechas mas, “o que não é razoável é um adido de imprensa escorraçar repórteres que foram convidados para a cobertura do evento. Se o adido de imprensa pode recusar o direito de jornalistas em cobrirem determinados momentos das reuniões da Frelimo, o que tem sido prática, já não é aceitável ele ir virar câmaras de repórteres em plena gravação”.
O MISA acusa Herinques de ser um “violador directo da liberdade de imprensa”.
Arrolou anteriores episódios envolvendo Henriques a solicitar jornalistas a se retirarem das salas de reuniões, o que a classe nunca rejeitou.
“Por isso, o MISA não encontra razões para, desta vez, o adido de imprensa do PR ter partido para cima das câmaras e da classe jornalista”, diz.
O MISA lembrou o episódio que teve lugar em Setembro de 2023, no Estádio Nacional do Zimpeto, em que seguranças do Presidente da República agrediu o repórter desportivo, Alfredo Júnior, quando tentava obter a reacção de Nyusi, na histórica vitória da selecção Nacional de Futebol, os Mambas, frente ao Benin, que garantiu a qualificação dos Mambas ao CAN que recentemente, decorreu na Costa do Marfim.
“Alfredo Júnior foi violentamente agredido pela guarda do Presidente, por estar a captar imagens com recurso a telemóvel”, afirma o MISA.
O comité nacional da ACLLIN antecedeu a realização hoje (05) no município da Matola, da III sessão ordinária do Comité Central da Frelimo, o órgão máximo entre os congressos, evento que termina sábado (06).
(AIM)
Ac/sg