Bruxelas, Bélgica, 03 Jul (AIM)- Pouco mais de dois anos (28 meses) depois do início da devastadora guerra na Ucrânia (com o país quase transformado em cinzas), e o mundo em geral a enfrentar graves consequências económicas, financeiras e sociais daí resultantes, os europeus inclinam-se, finalmente, para cenário de solução negociada, segundo conclusão de um inquérito.
O grupo de reflexão do Conselho Europeu sobre Relações Externas realizou um inquérito a 15 países europeus sobre cenários de desfecho do conflito na Ucrânia. A maioria dos inquiridos manifesta forte apoio à causa ucraniana, mas acredita que o resultado mais provável terá como base um acordo negociado à mesa e não uma vitória no campo de batalha. Pela primeira vez, a população ucraniana também contribuiu para esta análise, citada pela RTP.
O grupo de reflexão pan-europeu que estuda estratégias, política externa e segurança europeia – European Council on Foreign Relations – auscultou 19.566 pessoas em 15 países, durante a primeira quinzena de maio. Nesta investigação, incluiu pela primeira vez residentes na Ucrânia.
O estudo deixa claro que a “determinação da Ucrânia em lutar e o apoio europeu ao armamento do país não foram afectados pelos avanços russos no campo de batalha”. Porém, “por trás da aparente unidade, há uma grande divisão entre a Ucrânia e a Europa sobre como essa guerra deve terminar e o que o apoio aliado está destinado a alcançar”.
O que dizem os ucranianos
Apesar de circular uma ideia de enfraquecimento moral, os inquiridos ucranianos deixam claro que acreditam tanto na vitória como no presidente Volodymyr Zelensky. Perto de 34 por cento disseram que confiam “muito” no líder ucraniano, enquanto outros 31 por cento confiam “bastante”.
Sobre o resultado mais provável da guerra, 58 por cento dos ucranianos apontam uma vitória ucraniana. O estudo revela ainda que 30 por cento estimam que terminará com um acordo e apenas um por cento pensa que a Rússia vencerá o conflito.
Porém, a maioria prefere ceder território em vez de abandonar a soberania, definida pelo direito de se juntar à NATO e à União Europeia (UE).
Mais armas?
Nos restantes 14 países europeus, o estudo sublinha que a Itália é o Estado menos favorável à Ucrânia. A contrastar está a Estónia, onde 38 por cento dos inquiridos revelam uma visão predominante de que a Ucrânia vencerá a guerra.
A Suécia e a Polónia entendem que a Europa deve ajudar a Ucrânia até que o território seja todo recuperado. Já a Itália, Grécia e Bulgária não concordam com essa estratégia e inclusive opõem-se ao aumento de fornecimento de armas à Ucrânia.
Os inquiridos na Chéquia, França, Alemanha, Países Baixos, Espanha e Suíça não apresentaram consenso nacional sobre a guerra e o papel da UE. Destacar que nenhum país apoia o envio de tropas para a Ucrânia, tal como preconiza o presidente francês, Emmanuel Macron.
Macron alega que a Rússia está a prejudicar os interesses da França em África e no mundo, daí que deve ser derrotada e “castigada”.
Mas no geral ainda há grandes maiorias que defendem o envio de mais armas para a Ucrânia, sobretudo para fortalecer a posição de Kiev à mesa das negociação.
Para 67 por cento de ucranianos, a necessidade de armas para se defenderem é essencial. O estudo releva ainda que setenta e cinco por cento dos ucranianos consideraram o papel da UE positivo e vêm a filiação da Ucrânia como necessária para vencer a guerra.
Apoio externo
O Reino Unido está em primeiro lugar no que toca ao país que mais apoio dá à Ucrânia, disseram 88 por cento dos ucranianos, que classificam a Grã-Bretanha como “muito ou principalmente confiável”, seguida pela Lituânia com 77 por cento, embora a maioria dos países da lista tenha o carimbo de “confiável”.
Já para o outro lado do Atlântico a preocupação de um terço dos ucranianos prende-se com a possibilidade de Washington fechar um acordo de paz com Moscovo sem envolver Kiev.
Mark Leonard, coautor da investigação e director do CERE (Centro de Ensino e. Recuperação do Entroncamento), com sede em Portugal, explica: “A nossa nova análise sugere que um dos principais desafios para os líderes ocidentais será reconciliar as posições conflituosas entre europeus e ucranianos sobre como a guerra terminará”.
E acrescenta que “embora ambos os grupos reconheçam a necessidade de provisão militar contínua para ajudar a Ucrânia a reagir à agressão russa, há um profundo abismo em torno do que constitui uma vitória – e qual é o propósito real do apoio da Europa”.
Para além do apoio militar à Ucrânia, a UE e os Estados Unidos da América aplicam sanções unilaterais maciças e sem precedentes contra a Rússia, para a chamada derrota estratégica.
Estas sanções vieram complementar as medidas já impostas à Rússia desde 2014, na sequência da anexacção da Crimeia e da alega não aplicação dos acordos de Minsk (Bielorrússia).
As sanções incluem medidas restritivas específicas (sanções individuais), sanções económicas, medidas diplomáticas e medidas em matéria de vistos.
O objectivo das sanções económicas é provocar na Rússia consequências graves pelas suas acções e “impedir eficazmente a Rússia de prosseguir a agressão”.
As sanções individuais visam as pessoas responsáveis pelo apoio, financiamento ou execução de acções que comprometam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia, ou as que beneficiam dessas acções.
A UE adoptou igualmente sanções contra a Bielorrússia, o Irão e a Coreia do Norte, alegadamente em resposta ao seu apoio militar à Rússia.
Contudo, as sanções maciças não estão a produzir efeitos desejados na Rússia.
Apoio militar só dos EUA
Em Abril deste ano (2024), os EUA aprovaram um pacote de ajuda militar à Ucrânia de 61 mil milhões de dólares (57 mil milhões de euros). Entre fevereiro de 2022 (início da guerra na Ucrânia) e meados de 2023, os EUA enviaram mais de 44 mil milhões de dólares (cerca de 41 mil milhões de euros) em armas, manutenção, treino e peças sobressalentes para a Ucrânia.
Contribuição da União Europeia
Em Março de 2024, os Estados-membros da União Europeia chegaram a acordo para renovar o regime especial de reforço do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, que tem sido utilizado para doar armas e munições à Ucrânia. O novo envelope é de cinco mil milhões de euros até ao final do ano (2024), que se juntarão aos 6,1 mil milhões de euros autorizados desde o início de 2022.
(AIM)
DM