Lopes Obadias (colaboração), em Quelimane
Quelimane (Moçambique), 05 Ago (AIM) – O ministro moçambicano da saúde, Armindo Tiago, reiterou que a vacina contra a malária lançada esta segunda-feira (05), em Quelimane, capital provincial da Zambézia, centro do país, é segura e eficaz, daí a necessidade de se mobilizar todos os actores comunitários para uma maior adesão do grupo alvo.
O objectivo é conter casos de óbitos intra – hospitalar por malária, doença que continua a ser um dos maiores problemas de saúde pública em Moçambique, condicionando, em parte, o desenvolvimento social e económico do país.
“A vacina que hoje introduzimos é segura, eficaz e protege, de forma complementar, contra a malária. Por isso, recomenda-se que se continue a implementar as outras medidas de prevenção contra a doença como o uso correcto da rede mosquiteira tratada com insecticida, adesão às campanhas de pulverização periódica intra-domiciliária, o saneamento do meio, entre outras”, referiu o ministro.
As estatísticas avançadas pelo ministro espelham a gravidade da malária no país, e os efeitos positivos dos programas de luta contra a doença. A título de exemplo, no primeiro semestre de 2024, foram registados cerca de seis milhões de casos de malária, contra oito milhões do período homólogo de 2023, uma redução de 22 porcento.
O ministro disse ainda que no primeiro trimestre de 2024 foram registados 196 óbitos intra – hospitalares, contra 211 em igual período de 2023, uma redução de sete por cento.
“Os ganhos em referência resultam da utilização simultânea de intervenções combinadas e eficazes com impacto na redução do peso da malária no país”, disse.
O titular da pasta da saúde indicou que “como forma de continuar a consolidar os ganhos que anunciamos e reforçar medidas de prevenção da doença, estamos, hoje, aqui em Quelimane a introduzir a vacina contra a malária nos serviços de rotina em todas 287 unidades sanitárias da Zambézia”.
A selecção da província da Zambézia como pioneira na introdução da vacina está relacionada com o elevado peso que a doença representa em relação a outras províncias moçambicanas, incluindo Nampula, a mais populosa de Moçambique.
A focalização também resulta da limitada disponibilidade da vacina a nível global. “Se não fosse a pouca disponibilidade da vacina, iriamos introduzi-la em todo o país”.
A boa nova é que a partir do próximo ano, “vamos oferecer esta vacina a todos os locais do nosso país em função das características epidemiológicas e da progressiva disponibilidade da mesma”.
A introdução da vacina contra a malária naquela parcela do país é uma oportunidade para facilitar a compreensão sobre os vários aspectos de implementação da intervenção, incluindo como poderá afectar a rotina do programa de vacinação.
A fonte disse que em função das lições aprendidas de outros países existem experiências e evidências que demonstram que a vacina contra a malária quando administrada em crianças menores de dois anos, num esquema de quatro doses, reduz, de forma significativa, a mortalidade provocada pela doença.
À semelhança do que sucede com a vacinação injectável podem ocorrer alguns efeitos colaterais adversos de pequena monta como febre, dor ou inchaço no local de injecção, “mas isso é uma reacção normal para a vacina a ser considerada como de valor menor”.
Para garantir o sucesso da sua implementação urge, reiterou o ministro, uma mobilização para a criação da demanda e gestão de rumores e desinformação. “Por isso apelamos à colaboração de todas as forças vivas da sociedade com realce para os meios de comunicação social”.
Armindo Tiago assegurou que o financiamento para a introdução da vacina está garantido, através do governo e parceiros de cooperação.
Questionado pela AIM sobre o horizonte temporal estabelecido para administração da vacina, o ministro explicou que, em princípio, a dose a ser administrada só nos 22 distritos da Zambézia não prevê um intervalo específico, mas ao todo estão previstas quatro fases basicamente para crianças com idade compreendida entre seis e 18 meses.
Ainda de acordo com Tiago, a introdução da vacina em referência aumenta para 14 o leque das doenças que podem ser prevenidas por via de vacinação no calendário vacinal, facto que representa o compromisso do governo em prol da saúde infantil.
Vincou o comprometimento do executivo no desenvolvimento de esforços de modo que as crianças moçambicanas tenham acesso a todas vacinas que se julgarem necessárias.
“Acreditamos que com a aceitação e adesão que assistimos na procura de outras vacinas, também será com a da malária, pois os pais e cuidadores de crianças estão cientes da importância desta medida para o futuro dos petizes”, sublinhou.
Moçambique deu hoje um passo importante na prevenção da malária entre as crianças vulneráveis com a introdução da vacina contra a malária denominada R21, que irá reduzir milhares de casos de malária e salvar a vida de milhares de crianças todos os anos. Uma criança morre de malária a cada minuto, em África.
Através da Gavi, a Aliança das Vacinas, e do co-financiamento do Governo de Moçambique, o país dispõe de cerca de 800.000 doses da vacina contra a malária para o Programa Alargado de Vacinação, visando imunizar cerca de 300.000 crianças na primeira fase, que começou ainda hoje (05).
A vacina R21 é recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A vacina R21, administrada na imunização infantil, reduz mais de metade dos casos de malária (até 66%) em crianças durante o primeiro ano de acompanhamento e prolonga a protecção com a quarta dose da vacina.
“Esta vacina representa um avanço para a saúde infantil, controlo da doença e redução da mortalidade infantil em Moçambique, onde a malária é uma doença endémica, cuja prevalência em crianças menores de cinco anos de idade é de 32%”, refere, por sua vez, um comunicado conjunto da Gavi, a Aliança das Vacinas; UNICEF; e OMS, enviado a AIM.
A introdução da vacina em Moçambique, indica o comunicado, eleva para onze o número de países no continente africano que oferecem este tipo de imunização.
A malária continua a ser um enorme desafio para a saúde na região africana que engloba 11 países que representam aproximadamente 70% do peso mundial da malária.
A região foi responsável por 94% dos casos de malária a nível mundial e 95% de todas as mortes por malária em 2022, de acordo com o Relatório Mundial sobre a Malária de 2023.
(AIM)
LO/mz