
Daniel Chapo, candidato da Frelimo, pré-campanha no distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado
Por Gustavo Mavie, em Inhambane (colaboração)
Inhambane (Moçambique) – A FRELIMO, partido no poder em Moçambique, é quase o único partido a fazer uma verdadeira campanha eleitoral na província de Inhambane para as próximas eleições gerais e presidenciais que terão lugar a 9 do próximo mês de Outubro próximo.
Dos 37 partidos ou associações que se inscreveram na Comissão Nacional de Eleições (CNE), e receberam deste órgão dinheiro do erário público para financiar as suas campanhas eleitorais, apenas a Frelimo é que tem feito, de facto, uma campanha em toda a província de Inhambane.
Quanto às restantes formações políticas e associações, apenas as caravanas da RENAMO, MDM e PODEMOS são vistas esporadicamente na capital da província homónima, bem como na cidade de Maxixe que fica do outro lado da baía que separa as duas urbes.
Se esta campanha eleitoral fosse como o Moçambola (campeonato nacional de futebol onde apenas participam os clubes nacionais, a FRELIMO estaria bem confortável pois estaria a disputar sozinha esse campeonato.
A ausência das 33 formações políticas, das 37 que estão inscritas na CNE, é prova irrefutável de que apenas estavam interessados em receber os milhões de meticais que, por lei, lhes devem ser pagos a cada vez que se realizam eleições locais ou gerais, como as presentes.
A prova disso é o facto de não estarem a fazer a campanha e nem sequer do uso do tempo gratuito de antena a que têm direito nos órgãos de comunicação de massa, nomeadamente na Rádio Moçambique e na Televisão de Moçambique e muito menos nas privadas onde devem pagar para passarem a sua propaganda política como tem feito a FRELIMO.
Em Inhambane somente também a FRELIMO tem uma representação ou delegação constituída por um edifício imponente, seguida das de pequenas dimensões da RENAMO, do MDM e da PODEMOS criada nas vésperas desta campanha eleitoral quando falta pouco mais de uma semana do fim.
Uma simples observação das reportagens que me chegam aqui em Inhambane, onde estou baseado e de onde estou a cobrir esta campanha que antecede as eleições que terão lugar em todo o território moçambicano a 9 de Outubro próximo, leva-me a concluir que a FRELIMO é de facto o único partido que está fazendo esta campanha, à semelhança do seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
Efectivamente, Chapo é de longe o candidato que está também a fazer uma campanha eleitoral visível, mesmo para os leigos ou para os desprovidos dos seis sentidos.
É por isso que se a FRELIMO e seu candidato Daniel Chapo ganharem as próximas eleições, como tudo indica, não fará muito sentido que venham a ser acusados de fraude como já aconteceu no passado.
Seriedade e organização da FRELIMO não tem nada a ver com uso dos fundos públicos como alegam alguns partidos
Com base no postulado que preconiza que “o passado explica o presente, como nos projecta o que será o futuro”, é legítimo afirmar que estão errados os que dizem que a FRELIMO está a fazer bem a sua campanha eleitoral porque está usando os fundos e bens públicos.
Aliás, muito antes de ser partido no poder, um feito que conseguiu em 1975 quando proclamou a independência de Moçambique, esta formação política já era bem organizada, algo que aconteceu durante a luta armada que, durante 10 anos, travou contra o colonialismo português.
Durante esse período a FRELIMO dependia dos parcos recursos que conseguia para manter os seus guerrilheiros que moviam uma dura e mortífera guerra de guerrilha que desgastou as dezenas de milhares de militares do exército colonial português.
Já depois do acordo de paz, assinado a 7 de Setembro de 1974 em Lusaka, capital zambiana, a FRELIMO instalou-se como organização política em todo o território moçambicano e, em pouco tempo, as suas estruturas políticas em todo o país.
Em todos os cantos de Moçambique passaram a ter estruturas tais como Grupos Dinamizadores ou Células do Partido. E na altura, ou seja, em 1974 ainda não tinha acesso ao poder do Estado.
Portanto, a FRELIMO foi sempre um partido organizado e focado nos seus objectivos. E só foi por isso que conseguiu derrotar o colonialismo e fundar o actual Estado moçambicano que completa 50 anos em Junho próximo.
Não é por acaso que a FRELIMO é um dos poucos partidos independentistas que se mantem no poder, bem como se tornou cada vez mais forte e não morreu como outros com a sua idade. Por isso, não se pode justificar esta sobrevivência e fortificação da FRELIMO com uma alegada utilização dos fundos e bens públicos.
Se fosse mesmo por isso, então deviam ter-se mantido e fortificado também os que deixaram de existir em África após a independência que proclamaram nos seus países. O seu desaparecimento é prova de que não souberam abraçar novas causas ou lutas para mantê-los relevantes perante os seus povos.
Morreram porque os seus líderes se deixaram adormecer com o “sabor do poder” valendo-me do título de um dos melhores livros que já li e que já não me lembro do seu autor latino-americano.
A FRELIMO continua viva e forte apenas porque tem sabido defender a independência deste país dos novos inimigos que, desde o primeiro ano, tentaram abortá-la através de uma guerra fratricida movida durante 16 anos e matou mais de um milhão de moçambicanos e forçou mais de quatro milhões de outros ao exílio nos países vizinhos.
Outros milhões fugiram das suas zonas para se fixarem em outras mais seguras, por essa guerra sem quartel e que visava mais os civis.
O que mantém a FRELIMO viva e cada vez mais forte é que os sucessivos governos cumpriram o que era a razão da luta que levou a cabo contra o colonialismo português, que era libertar o país e o seu povo, e depois proceder à sua reconstrução e desenvolvimento multissectorial.
(AIM)
GM/sg