
Resultado das manifestacoes pos-eleicoes na Av das FPLM em Maputo. Foto de Ferhat Momade
Maputo, 25 Dez (AIM) – A cidade de Maputo foi atingida terça-feira (24) por uma onda de violência pós-eleitoral, que abalou a capital moçambicana, algo jamais visto em toda a sua história.
A escala, pilhagem e vandalização de bens públicos e privados, protagonizada por pessoas de todas as idades, incluindo crianças, é quase que incompreensível.
Aliás, a pilhagem e vandalização são de tamanha magnitude como se as pessoas tivessem sido afectadas por um momento de loucura colectiva, ou se não houvesse o dia de amanhã.
Na cidade da Matola, onde também a pilhagem foi desenfreada, alguns residentes incrédulos chegam mesmo a questionar se não será o fim da actividade comercial naquela urbe, capital da província meridional de Maputo.
Não menos preocupantes é o caso dos milhares de pessoas que, repentinamente, ficaram desempregadas.
Os produtos roubados incluem bens alimentares, electrodomésticos, artigos electrónicos, entre outros.
Uma das vítimas da pilhagem é a irmã do falecido rapper Azagaia, autor da música intitulada Povo no Poder e que acabou sendo usada pelos manifestantes com fonte para a sua inspiração.
Falando à estacão de televisão privada TV Sucesso, a irmã do Azagaia rogou as pessoas que se apossarem do seu equipamento para a sua devolução, pois são instrumentos de trabalho.
As manifestações eclodiram na tarde do dia anterior após a validação dos resultados das eleições gerais de 09 de Outubro último, que dão vitória à Frelimo e seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
Os resultados definitivos foram divulgados pela presidente do Conselho Constitucional (CC), Lúcia Ribeiro,
Um vídeo amador que, desde o início da tarde de terça-feira, circula nas redes sociais, mostra um grupo de manifestantes a atearem fogo a um contentor colocado ao lado do muro de vedação do Aeroporto Internacional de Maputo, a gritar para entrar no recinto e vandalizar as instalações. No fim da pilhagem, os malfeitores atearam fogo ao contentor.
“Se nos baleiam, vamos queimar isto tudo. É aqui o Aeroporto Internacional de Maputo, vamos entrar e queimar tudo”, disse um dos manifestantes no vídeo.
Uma fonte da empresa disse à AIM que os malfeitores partiram parte do muro de vedação, numa extensão de pouco mais de um metro.
“Agora estão lá militares a guarnecerem o local para que os manifestantes não tenham acesso ao recinto”, afirmou.
Aliás, o Aeroporto Internacional de Maputo funciona ao lado da Base Aérea de Mavalane.
Entretanto, ao longo da Avenida de Moçambique, Estrada Nacional Número Um (EN1), no troço entre os bairros do Jardim e Jorge Dimitrov (Benfica), balcões de atendimento de bancos comerciais, incluindo Millennium BIM e Banco Comercial e de Investimentos (BCI) lojas e supermercados, armazéns, foram saqueados.
Durante o saque num dos bancos, viam-se manifestantes a sair e correr em debandada, empunhando computadores, processadores, cadeiras, incluindo alguns papéis, pastas de arquivos, e canetas.
Houve fogo posto nos balcões, tendo até ao momento do fecho desta matéria (20 horas, de Maputo) ainda saía fumaça no BIM do bairro 25 de Junho.
Barricadas foram colocados nas principais vias e avenidas, inviabilizando a circulação normal de pessoas e viaturas nas artérias da cidade capital.
As manifestações foram erguidas por simpatizantes de Venâncio Mondlane que, na corrida presidencial, foi suportado pelo Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS). As manifestações foram acompanhadas de uma escalada de violência.
Infelizmente, o próprio Venâncio Mondlane parece estar a perder o controlo da situação e, como consequência, é aparente que a situação está a resvalar para o caos.
Dada a dimensão dos estragos verificados nas últimas 24 horas, Venâncio Mondlane, teve que intervir durante uma transmissão “live” transmitida na sua página de Facebook, apelando os manifestantes à calma.
“Companheiros, eu vos peço que não estraguem os bancos, não queimem bens públicos e privados, e deixem as viaturas dos médicos, enfermeiros, jornalistas, circularem; não bloqueiem essas viaturas, mas devem mostrar crachás”, afirmou.
Venâncio Mondlane reiterou que vai tomar posse como Presidente da República, a 15 de Janeiro próximo.
Refira-se que o CC anunciou Chapo vencedor das eleições presidenciais com um total de 4.416.306 votos, o que representa a 65,17 por cento.
Venâncio Mondlane assume a segunda posição com 1.539.333 votos (24,19 por cento).
Ossufo Momade, apoiado pela Renamo, amealhou 448.738 votos (6,62 por cento) e Lutero Simango, suportado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) teve 272.736 votos (4,02 por cento).
De um total de 7.238.027 eleitores votantes, a eleição presidencial teve 6.777.113 votos válidos, 205.601 votos definitivamente nulos, e 255.313 votos em branco.
Com estes resultados, o PODEMOS passa a ser o maior partido da oposição, e a Renamo, que era o maior da oposição, passa para o segundo da oposição e o MDM o terceiro.
(AIM)
Ac/sg