
Alunos regressam às aulas.
Maputo, 24 Jan (AIM) – Mais de 150 mil estudantes, incluindo crianças, foram afectados pelos ciclones Chido e Dikeledi que, nos últimos dois meses, fustigaram as províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula, norte de Moçambique.
Um relatório intitulado: Aprendizagem Interrompida: Panorama Global das Interrupções Escolares Relacionadas com o Clima em 2024, publicado hoje pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e enviado à AIM revela que as crianças moçambicanas estão a ser repetidamente afectadas por ciclones no país.
Em resposta aos ciclones que devastaram as aldeias em todo o território moçambicano, o UNICEF apoiou a construção de mais de 1.150 salas de aula resistentes ao clima em cerca de 230 escolas no país.
Publicado por ocasião do Dia Internacional da Educação, que hoje se assinala no mundo inteiro, o relatório examina os riscos climáticos que resultaram no encerramento de escolas ou interrupção significativa dos horários escolares, e o subsequente impacto nas crianças desde o ensino pré-primário até ao ensino secundário.
O relatório aponta que pelo menos 242 milhões de estudantes de 85 países do mundo inteiro viu a sua escolaridade interrompida devido a crises climáticas em 2024.
No ano passado, o mau tempo manteve um em cada sete alunos fora das aulas, ameaçando a sua saúde e segurança, e afectando a sua educação a longo prazo.
A educação também foi severamente afectada no Afeganistão, Bangladesh, Paquistão e Filipinas, por vagas de calor, ciclones, inundações, secas e tempestades.
De acordo com a análise, as vagas de calor verificadas em 2024, no mundo inteiro, foram o risco climático predominante que provocou o encerramento de escolas, tendo afectado mais de 118 milhões de alunos só em Abril.
O relatório refere ainda que as escolas e os sistemas educativos estão em grande medida mal equipados para proteger os alunos dos impactos das mudanças climáticas, uma vez que os investimentos financeiros na educação centrados no clima continuam a ser notoriamente baixos e os dados globais sobre interrupções escolares devido a riscos climáticos são limitados.
O El Niño, fenómeno climático que se caracteriza pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico Equatorial, continuou a ter um impacto devastador em África, com chuvas fortes e inundações frequentes na África oriental e seca severa em partes da África austral.
O aumento das temperaturas, as tempestades, as inundações e outros riscos climáticos podem danificar as infra-estruturas e o material escolar, dificultar os percursos escolares, criar condições de aprendizagem inseguras e afectar a concentração, a memória e a saúde física e mental dos alunos.
Os dados mostram que as raparigas são frequentemente afectadas de forma desproporcionada, e enfrentam riscos acrescidos de abandono escolar e de violência baseada no género durante e após as catástrofes.
O documento revela que quase 74 por cento dos estudantes afectados no ano passado se encontravam em países com rendimentos baixos e médios-baixos, mas nenhuma região foi poupada.
“As crianças são mais vulneráveis aos impactos das crises relacionadas com o clima, incluindo vagas de calor, tempestades, secas e inundações mais fortes e mais frequentes”, afirma a directora-executiva do UNICEF, Catherine Russell.
Russell acrescenta que os corpos das crianças aquecem mais rapidamente, transpiram de forma menos eficiente e arrefecem mais lentamente do que os adultos.
“As crianças não conseguem concentrar-se em salas de aula que não oferecem descanso do calor sufocante, e não conseguem chegar à escola se o caminho estiver inundado ou se as escolas forem arrastadas pelas águas”, diz.
Entretanto, as perturbações mais frequentes induzidas pelo clima ocorreram em Setembro, altura que inicia o ano lectivo em muitos países do mundo.
Pelo menos 16 países suspenderam as aulas neste período académico crítico devido a fenómenos meteorológicos extremos, incluindo o tufão Yagi, que no início de Setembro de 2024, afectou mais de 16 milhões de crianças na Ásia oriental e no Pacífico.
A nível mundial, os sistemas de ensino já estavam a falhar a milhões de crianças. A falta de professores formados, as salas de aula superlotadas e as diferenças na qualidade da educação, e no acesso à mesma, há muito que criam uma crise de aprendizagem que os riscos climáticos estão a agravar.
O relatório refere que as escolas e os sistemas educativos estão em grande medida mal equipados para proteger os alunos destes impactos, uma vez que os investimentos financeiros na educação centrados no clima continuam a ser notoriamente baixos e os dados globais sobre interrupções escolares devido a riscos climáticos são limitados.
O documento conclui, afirmando que o UNICEF trabalha com governos e parceiros para apoiar a modificação e construção de salas de aula resistentes ao clima para proteger as crianças de condições climatéricas adversas.
(AIM)
Ac/sg