
Chimoio (Moçambique), 13 Dez (AIM) – Alguns produtos de primeira necessidade começam a escassear nos principais mercados da cidade de Chimoio, capital da província de Manica, centro de Moçambique.
Em causa estão as restrições na circulação de viaturas com mercadoria diversa de Maputo, a capital do país, para Chimoio, devido a manifestações pós-eleitorais.
A batata reno, a cebola, entre outros produtos, podem, a qualquer momento, esgotar se os protestos persistirem.
As manifestações poderão avançar, na próxima semana, para a quinta etapa, denominada Turbo V8.
As mesmas são convocadas pelo candidato presidencial suportado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), Venâncio Mondlane, que reivindica alegada vitória nas VII eleições presidenciais, legislativas, e das IV das assembleias provinciais, incluindo governadores provinciais, realizadas a 09 de Outubro passado.
Em Chimoio, por exemplo, verificam-se dois cenários quando faltam apenas duas semanas para a festa de natal e de fim de ano.
Nos principais mercados, os produtos de primeira necessidade começam a esgotar e, em outros, os produtos existem, mas os preços estão a disparar devido à procura que é maior em relação à oferta.
Consequentemente, os comerciantes começam a tirar algum proveito disso “ferindo” o bolso do cidadão, tal como conta Matilde Helena Francisco.
Residente do bairro Vila Nova, disse que como tem sido habitual, a estas alturas do ano prepara-se, fazendo compras de produtos essenciais para a sua dispensa para garantir festas condignas.
Todavia, não está a ser fácil para ela porque os preços de produtos estão a subir vertiginosamente e, em alguns casos, os produtos estão a esgotar no mercado.
“Passei pelo mercado Catanga, localizado no centro de Chimoio. Tem cebola, mas os preços são altos. Eu estava habituado a comprar um quilograma de cebola por 50 a 75 meticais (o dólar EUA equivale a 64 meticais). Mas hoje comprei a 100 meticais e, em outros lugares, a cebola de melhor qualidade subiu para entre 120 e 130 meticais”, referiu.
Segundo a fonte, “o mesmo acontece com a batata reno que estava 450 a 500 meticais por cada saqueta de 10 quilogramas. Esse era o preço da semana passada. Neste momento, passou para 600 a 650 meticais”.
“Acredito que poderá subir mais nos próximos dias, caso a situação das manifestações prevaleça, com restrições na circulação de viaturas nas principais rodovias do país”, anotou.
O mesmo sentimento foi manifestado por José Armando.
Falando a AIM do mercado Francisco Manyanga, mais conhecido por 38, o maior mercado de Chimoio, a fonte disse que aqui existe quase tudo.
Porém, os preços deixam a desejar. José Armado explicou que pretendia adquirir alguns produtos de primeira necessidade, mas contrariamente ao que se pensa, no mercado 38 quase tudo está cada vez mais caro.
“Todos pensam que aqui os preços são acessíveis. Isso já aconteceu, mas agora também está difícil. Penso que pode ser por causa da situação que o país vive. Eu queria arroz, óleo de cozinha, açúcar e outros produtos para a minha família. Mas só consegui comprar poucos porque o dinheiro que eu trazia não foi suficiente”, referiu.
Explicou que “cinco litros de óleo de cozinha, de qualidade média, está quase 900 meticais contra 750 na semana passada. Um saco de arroz, de 25 quilogramas, também de qualidade média, passou de 1.400 meticais, semana passada, para os actuais 1.700 meticais”.
José Armando disse que caso a situação continue assim, as festas do natal e de fim deste ano serão das piores dos últimos tempos.
A isso, segundo José Amando, associam-se as restrições impostas pelas manifestações que podem agravar o problema nos próximos dias.
“Pensamos ser o momento de pararmos com estes protestos. Que haja diálogo para que, rapidamente, o povo saia do sofrimento. Os moçambicanos querem circular à vontade e trabalhar para produzir riqueza. Não podemos passar fome numa província como Manica, que tem quase tudo que pode acabar com a pobreza”, acrescentou.
A AIM conversou com um comerciante do mercado Francisco Manyanga, que justificou o aumento do preço de produtos de primeira necessidade como consequência das manifestações.
“Este ano está tudo diferente. Não digo que no passado não havia escassez ou aumento de preços, mas era feita de forma controlada. Devido às manifestações, as coisas estão desorganizadas. Cada um adquire os produtos a sua maneira e estabelece o seu preço. Escapa quem puder. É o que estamos a verificar aqui no mercado”, anotou Mariano José.
Comerciante há mais de dez anos, Mariano José disse que, pela sua experiência, este ano é atípico porque a situação está cada vez pior.
Explicou que grande quantidade da cebola e da batata reno vem da África do Sul, através das fronteiras da província de Maputo, até ao mercado grossista do Zimpeto, cuja circulação de viaturas está neste momento condicionada por causa das manifestações.
“Quando faltam duas semanas para a festa do natal e de fim de ano, tudo está a subir. Não imagino quando estivermos no natal. Portanto, é importante que as pessoas façam as suas reservas porque, nos próximos dias, os preços poderão aumentar em todos os produtos”, acrescentou.
Entretanto, o chefe do departamento de comércio na Direcção Provincial de Indústria e Comércio de Manica, Dinis Mative, garantiu terem sido criadas equipas multissectoriais com o objectivo de fiscalizar os preços de produtos de primeira necessidade.
Mative acredita em dias melhores, pois Manica tem fornecedores com capacidade suficiente para responder a demanda.
Disse que para além de fornecedores locais, em caso de crise, poderá recorrer-se às províncias mais próximas como Sofala e Tete.
“Aqui próximo temos também o Zimbabwe que pode fornecer-nos alguns produtos. Em primeira instância estamos a recorrer à produção local. Mas também esperamos muitos produtos do Zimbabwe. Existem alguns produtos para as festas de natal e de fim de ano, como é o caso do frango e ovos. Aqui em Manica contamos com um dos maiores produtores de frangos e ovos”, sublinhou.
Defendeu a sensibilização da população para intensificar a produção local e a não especular os preços, e pediu denúncia contra aqueles comerciantes que aproveitando-se da situação que o país vive, aumentam os preços de forma exagerada.
“Não queremos comerciantes oportunistas”, advertiu.
Em relação a produtos como refrigerantes e outras bebidas, Dinis Mative disse estarem asseguradas quantidades suficientes para a quadra festiva.
(AIM)
NM/mz