
Tratamento da doença do sono em África
Maputo, 04 Fev (AIM) – Moçambique encontra-se por baixo da linha vermelha entre os países que, por falta de uma vigilância epidemiológica activa, pode estar a incubar e contribuir para a rápida propagação da Tripanossomíase Humana Africana (HAT), conhecida como doença do sono.
Trata-se de uma infecção parasitária endémica na África Subsaariana e é quase invariavelmente fatal se não for tratada.
Moçambique reportou seu último caso há mais de 20 anos, concretamente em 2004, e desde então as organizações internacionais que sistematizam a evolução da doença ainda não recebem nenhum report sobre o país, justamente por ausência de vigilância activa.
O alerta foi dado recentemente, em entrevista à AIM, pelo Dr. Olaf Valverde, Líder da equipa e responsável médico pela Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), uma organização internacional que luta para a eliminação HAT como problema de saúde pública até 2030.
“O último caso em Moçambique foi reportado em 2004. Não quer dizer que não hajam casos porque temos encontrados casos que vem de Zimbabwe, Zâmbia e Malawi, países vizinhos e no Malawi circula a variante de rápida propagação. Isso reforça a convicção de que Moçambique só não reporta casos porque não tem vigilância activa”, disse o especialista em entrevista exclusiva à AIM.
Para o especialista, que liderou várias pesquisas na busca de medicamentos para a doença, recomenda uma vigilância activa a nível das comunidades para a detecção precoce dos casos, tendo em conta que os sintomas são gerais e na maioria dos casos, como dores de cabeça, perda de peso e debilidade.
A fonte tranquiliza e diz que Moçambique pode ser classificado como um país onde a doença de sono não é um problema de saúde pública. No entanto, avança que, os últimos estudos clínicos sobre a doença foram feitos recentemente no vizinho Malawi e os resultados serão publicados em Abril deste ano, e espera-se que sejam a base para a percepção da ideia geral sobre o que ocorre na região e em Moçambique em particular.
Olaf Valverde reafirma que, Moçambique reportava ciclicamente casos de Tripanossomíase Humana Africana desde 1900 até 2004 mas, estranhamente, parou de fazer a vigilância activa, numa altura em que aumentou a circulação da mosca tsé-tsé, principal vector da doença.
De acordo o especialista da DNDi, explicando a doença, existem duas variantes, a Tripanossoma Gambiense que é mais predominante na África Central e Ocidental e a Trypanosoma Rhodesiense, mais comum na África Oriental.
“A Variante Trypanosoma gambiense tem uma evolução crónica, mais lenta e mais difícil de detectar e a rhodesiense, é mais aguda, de fácil propagação e pode levar à morte em três semanas”, disse.
Num briefing sobre Doenças Tropicais Negligenciadas em Moçambique, o Ministério da Saúde, reconhece a existência de zonas endémicas no país, e o país continua a desenvolver acções concretas para reduzir e eliminar Doenças Tropicais Negligenciadas no país até 2030, em linha com os objectivos da OMS.
Para o Dr. Francisco Guilengue, Chefe de Repartição de Prevenção e Controlo de Zoonoses e lepra, a nível do Ministério da Saúde, as altas prevalências das doenças negligenciadas estão ligadas aos altos índices de pobreza no país, assumindo que, o governo tem feito seu melhor para prevenção.
“O peso dessas nas comunidades tem a ver com tracoma, bilharziose, parasitoses intestinais, a lepra, raiva e mordeduras de cobras. Estamos a fazer seguimentos de doenças e tratamento massivo através de campanhas”, disse a fonte das autoridades de saúde.
THA está entre as doenças tropicais negligenciadas alvo de eliminação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ate 2030, e o processo de tratamento é na base de Fexinidazol e Acuziborol, este último ainda aguarda a autorização pela OMS e poderá ser administrado aos pacientes em 2026.
Refira-se que a Guiné anunciou oficialmente, no dia 30 de Janeiro deste ano, a eliminação da doença do sono naquele país, a que coincidiu com as celebrações do Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas.
A doença do sono já matou centenas de milhares de pessoas na África ao longo do século passado, e por décadas o único medicamento disponível para casos graves era um derivado de arsénico tóxico que matava 1 em cada 20 pacientes.
O sucesso da Guiné deve-se, entre outros, a um melhor controle das moscas tsé-tsé, tendo os pesquisadores do French National Research Institute for Sustainable Development, na Guiné, desempenhado um papel importante no desenvolvimento de armadilhas eficazes.
Contribuiram igualmente, os novos medicamentos desenvolvidos pela DNDi com comprimidos orais seguros e eficazes que curam a doença em 10 dias.
(AIM)
Paulino Checo (pc)/sg