
Presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), Anselmo Muchave falando na conferência de imprensa. Foto de Carlos Júnior
Maputo, 10 Mar (AIM) – A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), anunciou hoje (10), a retoma da greve, por tempo indeterminado, caso o Governo não responda as preocupações que inquietam a classe.
A ameaça surge volvidos dois anos após a assinatura dos acordos entre o governo e a associação.
Importa lembrar que, a última greve foi anunciada a 29 de Abril de 2024, com vista a pressionar o governo a concretizar os acordos firmados em Junho e Agosto de 2023 com os profissionais de saúde. Entretanto, após negociações com o governo, a APSUSM suspendeu a mesma para que as questões acordadas fossem resolvidas.
Desta vez, a APSUSM diz que não fugiu à regra, pois também deixou um apelo ao governo para o cumprimento dos acordos firmados em 2023, até o final de Março corrente, referentes ao pagamento das horas extraordinárias, turnos, exclusividade, reenquadramento definitivo do regime geral e específico do sistema nacional de saúde e observação da carta reivindicativa, bem como do pagamento de salários fixos, e em datas fixas. “Pedíamos que o governo no final do mês de Março resolvesse todas as revindicações dos profissionais de saúde”.
“Nós iremos paralisar as nossas actividades, porque nós somos os pioneiros nas manifestações e sempre temos novas estratégias de piorar cada vez mais aquilo que é o funcionamento das unidades sanitárias”, advertiu o presidente da APSUM, Anselmo Muchave, em conferência de imprensa, hoje (10), em Maputo.
Muchave diz ser notório o desinteresse do governo na melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde e nos cuidados de saúde dignos à população, mesmo depois de assumir o compromisso de reverter esta situação, que tende a piorar.
“Infelizmente, as nossas unidades sanitárias estão cada vez piores, sendo o acesso aos cuidados básicos de saúde deficitário e agravado pela falta de medicamentos para tratar doenças mais comuns, obrigando os pacientes a comprar em farmácias privadas, sacrificando os seus valores”, disse.
Muchave também lamenta a falta de material, hospitalar e de motivação no seio de todos os profissionais. “Passam-se sensivelmente dois anos que, de viva voz, dissemos que as nossas unidades sanitárias se ressentem da falta de material médico-cirúrgico, os laboratórios funcionam sem reagentes, não há chapas para impressão de raios X”.
“Os profissionais de saúde são infectados por manusear graves patologias sem devida protecção, como luvas de limpeza, botas de cano alto para as maternidades e blocos operatórios, para além de sofrerem maus tratos pela população, que nos filma alegando que não queremos disponibilizar medicamentos dentro das unidades sanitárias.” acrescentou.
Muchave manifestou igual preocupação com a qualidade de alimentação dos pacientes, que “continua uma vergonha, embora alcance a 99% destes, ao contrário da dos profissionais de saúde, que passam 24 horas dentro das unidades sanitárias, sem alimentação”.
Referiu que a classe se sente excluída dos planos de 100 dias de governação, que desde 2022 a 2025 não incluem o pacote profissional de saúde.
“O governo praticamente descartou os profissionais de saúde, enquanto tínhamos consensos que deveriam ser concretizados no ano passado, e o governo deixou do lado, à semelhança dos actos administrativos, que não devem acontecer ao critério do governo, porque quando terminamos o curso, vamos directamente para os nossos sectores de trabalho”.
Apesar das queixas sobre o governo, a associação reconheceu algumas acções levadas a cabo para a melhoria das condições de trabalho. “Não vamos tirar o mérito de algumas coisas que fizeram, porque até neste momento está a distribuir os uniformes. O governo gastou na compra dos mesmos”.
Além disso, pediu ao governo, um olhar especial à associação, por ter sido a única que não aderiu à manifestação pós-eleitoral, onde “tivemos até a morte de dois colegas à saída das unidades sanitárias, mas o governo não diz nada acerca disso”.
(AIM)
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