Bratislava, Eslováquia, 09 Jan (AIM)- O fim da passagem de gás russo pelo território ucraniano para a Europa, decidido por Volodymyr Olexandrovytch Zelensky e que se concretizou no dia 01 de Janeiro corrente, pode provocar efeitos pouco agradáveis para a Ucrânia, tal como previam alguns analistas e comentadores que classificaram a medida como “um tiro no próprio pé”.
Ao não renovar o acordo para o trânsito de gás estabelecido entre a Rússia e Ucrânia),
Kiev deu “um tiro no pé”, disse o major-general Carlos Branco, garantindo que “perdem todos” com a situação, que é “extremamente inconveniente para todos”.
“Perde a Ucrânia, perde a Europa e perde a Rússia”, sublinhou o especialista em assuntos militares, analisando semana passada a situação na CNN Portugal, acrescentando que agora, toda a Europa vai sofrer.
Volodymyr Zelensky defendeu semana passada numa publicação nas redes sociais que o fim da passagem de gás russo pelo território ucraniano é “uma das maiores derrotas” de Moscovo.
“Quando [Vladimir] Putin chegou ao poder na Rússia, há mais de 25 anos, o volume anual de gás enviado através da Ucrânia para a Europa era de mais de 130 mil milhões de metros cúbicos; hoje, o volume de gás em trânsito é zero, o que significa uma das maiores derrotas de Moscovo”, escreveu o líder ucraniano.
Enquanto Volodymyr Zelensky considera ser “uma das maiores derrotas” de Moscovo, o mesmo posicionamento assumido pelos Estados Unidos da América (EUA), principal apoiante da guerra na Ucrânia, a Eslováquia e Hungria estão agastados com a decisão de Kiev.
Por exemplo, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, reiterou semana passada a ameaça de cortar o fornecimento de electricidade à Ucrânia e de cortar o apoio financeiro a mais de 130 mil refugiados ucranianos.
A agência da ONU para os refugiados (ACNUR) já calculou em 130.530 refugiados ucranianos na Eslováquia, num total de 6.813.900 refugiados em todo o mundo.
A Eslováquia reagiu assim ao fim do acordo que permitia o fornecimento de gás russo à Europa através da Ucrânia. Uma decisão que o presidente eslovaco, Peter Pellegrini, classifica como “acto de sabotagem”.
A Eslováquia era o principal ponto de entrada do gás russo e o país está agora a perder milhões de euros em taxas de trânsito. Para além da Eslováquia, Hungria e Moldávia, o gás era igualmente exportado para a Áustria.
“Quais serão os passos do Governo (Eslovaco) nos próximos dias? Na terça-feira (07), delegação governamental eslovaca participou nas negociações em Bruxelas, onde os políticos ucranianos tiveram a audácia de reclamar do facto de estarmos dispostos a tomar medidas recíprocas, como, por exemplo, a suspensão do fornecimento de electricidade à Ucrânia.
Depois de a delegação regressar de Bruxelas, convocarei o conselho de coligação e, em seguida, o Governo, e negociaremos as medidas que estamos a tomar para responder adequadamente à sabotagem do Presidente Zelensky.
Em nome do Smer, anuncio que estamos dispostos a negociar e a chegar a acordo numa coligação para suspender o fornecimento de electricidade e reduzir significativamente os subsídios aos cidadãos da Ucrânia que se encontram no território eslovaco”, segundo Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia.
Reacção da Hungria
A Hungria ameaça vetar entrada da Ucrânia na União Europeia, entre outras medidas, recordando que os “Estados-membros da UE decidem em unanimidade o recrutamento de novos membros”.
Numa publicação no Facebook, o chefe da diplomacia húngara tenta “chamar a atenção” os seus “colegas ucranianos para o facto de existirem direitos e obrigações”, relativamente à suspensão imposta ao trânsito de gás natural russo por território ucraniano.
Peter Szijjartó relembra ainda que esta decisão agora tomada por Kiev, poderá ter consequência na futura admissão da Ucrânia na União Europeia. “A realidade: os Estados-membros da UE decidem em unanimidade o recrutamento de novos membros. Por outras palavras, é necessário que cada Estado-membro vote sim”, escreve o ministro.
Cotação do gás natural atingiu 50 euros por megawatt
Apesar da cotação do gás natural ter atingido semana passada os 50 euros por megawatt, o preço mais elevado do último ano, a presidência da União Europeia diz que a situação na Europa é “estável”, com excepção da Moldávia, o país mais pobre do velho continente que não faz parte da união a 27. Megawatt (MW) é unidade de grandeza física que quantifica a potência dos sistemas e um MW equivale a um milhão de Watts (W).
E na Moldávia – que já decretou o estado de emergência – a situação mais preocupante está num pedaço de terra, com cerca de 500 mil habitantes chamado Transnístria.
Nesta região separatista pró russa todas as empresas industriais, com excepção dos produtores alimentares, estão paradas. Na quarta-feira desta semana empresa local de energia cortou o aquecimento e a água quente das casas. A região só tem reservas de gás para 10 a 20 dias.
Os habitantes receiam que seja o início do pesadelo que viveram em 2009, ano em que ocorreu o mais grave episódio da já longa guerra do gás entre a Rússia e a Ucrânia.
Nessa altura, por falta de acordo entre os dois países, as exportações russas para a Ucrânia, para os Estados-Membros da União Europeia e para a Moldávia foram cortadas durante duas semanas.
Os verdadeiros beneficiários do fim da passagem de gás russo pela Ucrânia
Vários especialistas militares e em relações internacionais dizem que os EUA são os verdadeiros beneficiários da medida, uma vez que se concretizou a sua estratégia de ver a Rússia desligada da Europa no capítulo do fornecimento de gás e petróleo. É nesse contexto que se inserem as sanções maciças (económicas, financeiras e políticas) e sem precedentes impostas pela União Europeia e a NATO contra a Rússia.
É de recordar que explosão do gasoduto Nord Stream, no Mar Báltico, que levava gás da Rússia para a Alemanha, em Setembro de 2022 pôs fim a um megaprojecto germano-russo que teve muitos opositores desde o início. Alemanha procura neste momento suspeito (mergulhador) ucraniano de sabotagem.
(AIM)
DM