
Presidente Ucraniano, Volodymyr Zelensky
Lisboa, 28 Mai (AIM) – A curta visita do presidente ucraniano a Portugal, esta terça-feira, mobilizou uma operação de larga escala para garantir a segurança de Volodymyr Zelensky em território português.
A chegada de Zelensky a Lisboa está prevista para esta tarde (cerca das 15h00 locais – 16h00 em Maputo) , proveniente de Bruxelas, Bélgica, onde esta manhã também assinou um pacto de defesa e segurança, à semelhança do acordo rubricado esta segunda-feira em Madrid, Espanha.
Contudo, as opiniões sobre a mobilização de uma operação de larga escala de segurança são divergentes: para alguns especialistas em defesa e segurança, a ameaça existe e pode estar bem mais próxima do presidente ucraniano do que se possa pensar, mas para outros, a visita “não é de alto risco”, não justificando grande aparato.
“Ninguém está interessado em matar Zelensky” num país como Portugal; diz, por exemplo, o major-general Agostinho Costa.
Preparação da visita
A preparação da visita do presidente ucraniano começou muito antes de acontecer, diz a imprensa lisboeta, acrescentando que os primeiros passos da organização da visita passam pelos analistas dos Serviços de Informações de Segurança portugueses (SIS), que produzem um relatório de análise de risco para ser entregue ao secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, o embaixador Vizeu Pinheiro, que define o grau de risco da visita. Entre a informação está a análise ao risco apresentado por indivíduos identificados como agentes da Federação Russa.
Muitos estão sinalizados pelo SIS e são “discretamente seguidos” pelos “agentes de contra informação” portugueses, diz a CNN Portugal.
“É um jogo muito complexo”, explica o tenente-coronel João Alvelos, especialista em segurança do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), que acrescenta que nos últimos dois anos as movimentações dos “adidos diplomáticos russos” em Portugal têm merecido particular atenção dos serviços secretos. Mas as autoridades também estão a considerar os perigos de segurança que podem surgir junto da própria diáspora ucraniana, que poderá querer aproveitar para ver o presidente do seu país, nesta que é a sua primeira visita a Portugal.
Entretanto, fonte da comunidade ucraniana garantiu à CNN Portugal que não haverá qualquer encontro com o presidente.
“A morte do presidente ucraniano pelas mãos de um ucraniano pro-russo seria uma das melhores coisas que poderia acontecer ao Kremlin. Isso tem de ser incluído na equação e seria uma das minhas maiores preocupações. Existem muitos ucranianos pro-russos em Portugal”, afirma o tenente-coronel João Alvelos.
Recorde-se que no passado dia 15 de Maio o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, ficou gravemente ferido após ter sido baleado repetidamente por um homem que se encontrava numa multidão a aguardar por ele.
A situação gera ainda mais preocupação após algumas das principais figuras políticas russas terem colocado em causa a legitimidade de Volodymyr Zelensky enquanto presidente, uma vez que o seu mandato acabou no dia 20 de Maio, mas devido à lei marcial em vigor na Ucrânia pode manter-se no poder até a guerra acabar. Dias antes vários membros da sua equipa de segurança foram detidos, alegadamente por estarem a preparar uma tentativa de assassinato contra o presidente.
“Este tipo de medidas não se anunciam com muita antecedência e revestem-se de medidas de segurança muitíssimo restritas. É preciso não esquecer que o porta-voz do Kremlin veio afirmar que Volodymyr Zelensky continua a ser um alvo legítimo para a Rússia”, sublinha o major-general Isidro de Morais Pereira.
Assim que o avião de Volodymyr Zelensky atravessar a fronteira a responsabilidade da sua segurança passa para Portugal e é aí que entra a Força Aérea Portuguesa.
No espaço aéreo português, o avião que transporta o presidente ucraniano vai ser protegido pelos F-16M até chegar ao aeroporto escolhido para receber o visitante. Todos os horários e detalhes das rotas são acertados ao pormenor entre os dois países para garantir que tudo corre dentro da normalidade.
“Desde que o presidente entre em território nacional ou em áreas da jurisdição nacional a responsabilidade é nossa. Portanto, no plano aéreo cabe a responsabilidade à força aérea, no plano terrestre às forças de segurança”, explica o major-general Agostinho Costa.
O percurso do presidente ucraniano vai ser mantido em segredo e vai ter vários itinerários alternativos, com diversas rotas de emergência, por onde a viatura do presidente poderá escapar em caso de necessidade. Junto de Volodymyr Zelensky vão estar membros da sua equipa de segurança, mas também homens do Corpo de Segurança Pessoal da Polícia de Segurança Pública (PSP).
Estes polícias passam por um rigoroso curso de 14 semanas e são responsáveis por garantir a segurança pessoal de todos membros dos órgãos de soberania, de altas entidades nacionais ou estrangeiras em visita a Portugal e aos membros do corpo diplomático acreditado no país.
Mas a abrir caminho vão polícias de trânsito, que se certificam de que a rota não está obstruída e que não existem ameaças ou situações suspeitas pelo caminho. Pontos vulneráveis da rota, como viadutos, são previamente ocupados pelas autoridades para garantir que tudo decorre sem incidentes. À semelhança do que aconteceu durante a visita do papa Francisco, a Divisão de Trânsito também vai estar destacada para facilitar a circulação nas artérias percorridas pelo presidente ucraniano.
“Vão existir vários trajectos, mas também várias alternativas. Vão existir itinerários de emergência e de evacuação. Ao longo de todo o caminho vão estar presentes agentes uniformizados e à civil, de forma a mitigar todos os elos da ameaça”, disse o tenente-coronel João Alvelos.
Em zonas estratégicas do percurso do presidente são destacados elementos da elite da polícia portuguesa.
A Unidade Especial da Polícia vai empregar agentes do Corpo de Intervenção, que geralmente fazem controlo de multidões em situações de violência, mas também vai colocar no terreno os homens do Grupo de Operações Especiais. Estes polícias são responsáveis pela última fase da protecção ao presidente ucraniano, “caso tudo corra mal” e só são utilizados caso seja necessário neutralizar uma ameaça real. Por este motivo, estes operacionais vão estar “discretamente destacados”.
Entre estes polícias vão estar franco-atiradores no topo de alguns edifícios. Com um elevado campo de visão, o trabalho dos atiradores é estar atento a potenciais ameaças que possam aparecer no terreno.
A Guarda Nacional Republicana (GNR) também poderá ter um papel a desempenhar na preparação da segurança do chefe de Estado ucraniano.
As autoridades podem definir como necessária a presença de drones para controlar remotamente aquilo que se passa no terreno. Por outro lado, podem optar precisamente pelo oposto e estabelecer áreas consideradas como “no-fly zones” para drones e destacar sistemas antidrones capazes de detectar e inactivar os dispositivos.
A Imprensa lisboeta diz que a PSP vai também ter no terreno elementos do Centro de Inactivação de Explosivos e Segurança em Subsolo, responsáveis por desactivar explosivos, e operacionais do Grupo Operacional Cinotécnico, agentes treinados para trabalhar em conjunto com cães-polícias.
De acordo com o jornal “Observador”, que cita uma fonte policial sob anonimato, as autoridades encaram esta visita oficial como sendo mais complexa do ponto de vista da operação policial do que a de outros chefes de Estado.
“Temos sempre de planear para o cenário mais provável, mas acautelando o cenário mais perigoso. Há sempre essa possibilidade, mas diria que a probabilidade de um atentado contra Volodymyr Zelensky é baixa, apesar do extremar de posições que existe”, considera o major-general Agostinho Costa, especialista em segurança.
(AIM)
DM