
Cannabis Sativa. Foto UNODC
Maputo, 26 Jun (AIM) – Um estudo conduzido pelas Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) considera a cannabis sativa “vulgo soruma” a droga mais consumida em África, numa altura em que a presença da cocaína e opióides também aumenta no continente.
A cannabis permanece a substância mais consumida com 244 milhões de usuários, seguido dos opióides com 61 milhões, anfetaminas com 30,7 milhões, cocaína com 25 milhões e por último ecstasy com 21 milhões.
O consumo de cannabis é elevado na África Ocidental, Central e Austral e a presença da cocaína e de opióides, como o tramadol, está a aumentar no continente, segundo um relatório das Nações Unidas.
Moçambique está entre os países que têm observado um aumento nas admissões em tratamento por perturbações associadas ao uso de cocaína.
O Relatório Mundial sobre Drogas 2025, divulgado nesta quinta-feira (26), em Viena, sede do Escritório da UNODC, indica que cerca de 10 por cento da população africana entre os 15 e os 64 anos consumiu cannabis em 2023, com maior incidência na África Ocidental, Central e Austral.
Outras tendências destacadas na investigação incluem a disparidade de género, pois há uma mulher para cada nove homens a consumir cannabis e a predominância de consumidores com menos de 35 anos entre os que procuram tratamento, sobretudo devido ao uso de cannabis e opióides em África.
O documento refere ainda que a África representa 44 por cento da quantidade total de erva e resina de cannabis apreendida a nível mundial em 2024.
A prevalência de consumo de opióides atingiu 1,4 por cento no continente, sendo o uso não médico de tramadol uma das principais preocupações, sobretudo no Norte de África e na África Ocidental e Central.
A nota ressalta que entre 2019 e 2023, “57 por cento dos opióides farmacêuticos apreendidos no mundo tiveram origem na África, em grande parte devido ao uso indevido de tramadol”.
A África Ocidental, Central e Austral registam os maiores crescimentos do uso de cocaína. Este aumento está a ser de forma consistente apesar dos dados disponíveis sobre tratamentos serem escassos.
Segundo o documento, a “África do Sul, Angola, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gana, Libéria, Marrocos, Moçambique, Níger, Senegal, Seicheles, Serra Leoa e Zâmbia têm observado um aumento nas admissões em tratamento por perturbações associadas ao uso de cocaína”.
Paralelamente, África tornou-se um ponto estratégico no trânsito da cocaína sul-americana para a Europa, “com apreensões significativas perto da costa, sobretudo na África Ocidental”.
No relatório chama-se ainda a atenção para o aumento do consumo de novas substâncias psicoativas (NPS).
Enquanto o “Khat” permanece comum na África Oriental, o uso de NPS sintéticas, como os canabinóides presentes no “Kush”, está a crescer rapidamente, em especial na África Ocidental e Central.
Segundo a agência da ONU, cerca de 1.33 milhões de pessoas consomem drogas por via injectável em África, das quais 204 mil, o correspondente a 15,4 por cento viviam com HIV em 2023.
Já, a África Austral tem a maior prevalência de HIV entre estes consumidores, com 43,2 por cento, enquanto a África Ocidental e Central regista a maior taxa de pessoas que injectam drogas, com 0,21 por cento.
Segundo as estimativas do UNODC, apesar destes dados e do aumento das drogas e tráfico disponíveis em África, a cobertura de tratamento permanece ainda desigual e a cobertura do tratamento para perturbações relacionadas com o consumo de drogas em África ronda apenas os três por cento.
De acordo com a ONU, estes serviços especializados são muitas vezes limitados às capitais ou grandes centros urbanos.
O documento refere que, a penetração dos traficantes de cocaína acontece em novos mercados na Ásia e na África.
“A conhecida violência brutal e a competição que caracterizam o cenário ilícito da cocaína, antes confinadas à América Latina, agora estão se espalhando para a Europa Ocidental com destaque para o oeste dos Balcãs”, lê-se na nota.
O relatório conclui que o uso, cultivo e tráfico de drogas e as respostas políticas promulgadas para abordar as economias ilícitas de substâncias estão impactando o meio ambiente na Europa.
As consequências potenciais do cultivo ou produção de drogas podem incluir desmatamento e outras mudanças no uso da terra, além de poluição do ar, do solo e da água, o que pode ser significativo no nível local.
Em Dezembro de 1987, a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu o Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, assinalado em 26 de Junho, como uma plataforma para fortalecer a acção e a cooperação internacional para construir uma sociedade livre do abuso de drogas.
(AIM)
FG/sg