
Maputo, 30 Jun (AIM) – Analistas, académicos e cientistas políticos, acreditam que a aprovação da Coligação Aliança Democrática (CAD), para participação efectiva nos próximos pleitos eleitorais, está longe de constituir uma ameaça à Frelimo, partido no poder e a Renamo, o principal partido da oposição, dada a consolidação das bases do seu eleitorado ao longo dos anos.
Contudo, o mesmo já não pode ser dito com relação ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que se apresenta vulnerável devido as crises internas desde a morte do seu fundador Daviz Simango.
O denominador comum entre as fontes ouvidas pela AIM é que, apesar do ímpeto e irreverência da CAD e seu candidato presidencial, é pouco crível que consigam desalojar a Frelimo do poder e a Renamo como segundo mais votada, sendo que, o mais provável é que empurre o MDM para uma posição desconfortável.
Essa abordagem está alinhada com as buscas que a AIM fez sobre as perspectivas do cenário político nacional com a entrada da CAD encabeçada pelo Venâncio Mondlane, a luz da lei eleitoral que abre espaço aos partidos que queiram apresentar-se conjuntamente nas eleições deverão apresentar as listas eleitorais com um único símbolo.
Para Dércio Alfazema, analista político vinculado ao Instituto para Democracia Multipartidária (IMD), não há dúvidas que, das três bancadas parlamentares, o MDM poderá estar numa posição de risco se a CAD conseguir fazer passar a sua candidatura a nível nacional.
Para Alfazema, o partido que está numa situação de risco, será o que tiver menor ímpeto, numa clara alusão ao MDM, ressalvado que, mas a própria CAD deverá ultrapassar os desafios de organização interna para conseguir mobilizar o eleitorado.
“O MDM está na tangente, está numa posição de risco. Tem a cidade da Beira como seu bastião, mas poderá ser pressionada pela CAD”, avançou.
O cientista político, Hélder Cuna, realça a maturidade política e pujança da Frelimo, como um factor de desequilíbrio na luta pelo poder em Moçambique, apesar de algumas desinteligências internas, algo natural de um partido com esta dimensão.
Aponta que a Renamo, apesar das sucessivas crises de liderança, como o partido da oposição, está melhor preparada para consolidar a sua posição de segunda principal força política do país.
“Por isso, a luta será pela terceira posição. é aí onde o MDM aparece como vulnerável, dada a sua situação actual de uma actuação marcadamente fragilizada, tanto pela morte do seu mentor, Daviz Simango, como gestão pouco criteriosa dos quadros internos”, disse.
Roque Daúde, 27 anos, estudante finalista de curso de ciência política na UEM, reconhece a força do Venâncio Mondlane e aponta como factor que pode tirar vantagem de uma alegada frustração dos eleitores com o desempenho do governo, sobretudo nos grandes centros urbanos.
No entanto, a fonte ressalva que, a influencia de Venâncio Mondlane pode ser notória apenas nos grandes centros urbanos, por se tratar de espaço onde os cidadãos têm mais liberdade e mecanismos de manifestação do seu descontentamento, mas que não será suficiente para a CAD se fazer eleger pelo menos para as duas primeiras posições, tanto a nível dos candidatos presidências, como a nível de luta pelos assentos no parlamento.
“Esses factores que mencionei não serão suficientes para fazer eleger a CAD na primeira ou segunda posição. A Frelimo e Renamo poderão continuar a dominar. O eleitorado moçambicano é fiel aos partidos históricos”, vinca.
De acordo com Sérgio Chichava, do IESE, num documento que analisa o desempenho do MDM em pleitos eleitorais, sublinha que, este partido tem vindo a enfrentar sucessivas crises desde a sua criação e uma das primeiras e mais visíveis crises ocorreu em 2011 quando Ismael Mussá, na altura secretário-geral, alegando gestão autoritária de Daviz Simango e a captura do partido pela sua família, demitiu-se do cargo.
Para a fonte, a crise no MDM, viria a agudizar-se em Nampula, quando em 2016, o então presidente do Município local, Mamudo Amurane, entrou em rota de colisão com Daviz Simango, a quem acusava de gestão ditatorial do partido e de tentativas de “linchamento político” .
“No meio desta tensão, Amurane foi assassinado em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas e até hoje o partido segue uma linha de corrosão política”, salienta.
Já o politólogo e docente universitário, Egídio Chaimite, também na mesma análise dos processos eleitorais, a falta de independência dos órgãos de administração eleitoral, tanto na prática como na liderança quotidiana, impede a tomada de decisões livres e isentas de qualquer interferência político-partidária, em detrimento dos partidos emergentes.
Explica que este factor pode reduzir as hipóteses dos partidos emergentes e delimita a luta pelo poder, situação bem explorada pelos partidos históricos.
“O caso de Moçambique, onde o nível de polarização política é bastante elevado, a verdade eleitoral é prejudicada pelos recorrentes impasses”, refere.
Apesar de Venâncio Mondlane ter assegurado à AIM que a sua luta e da sua coligação passa pela conquista do poder, só o facto de o seu nome estar alistado na primeira posição pela CAD como deputado na Assembleia da República pela cidade de Maputo, por si só revela que está cauteloso e admite que as suas reais hipóteses estão no parlamento moçambicano.
Refira-se que, a desconfiança política em Moçambique, que culminou na criação de órgãos de administração eleitoral com base numa estrutura partidária e assente na proporção da representação, ainda revela várias debilidades.
Esta desconfiança dificulta a realização de eleições efectivamente isentas de qualquer suspeição. Esta situação é exacerbada pela constante revisão da legislação eleitoral, sempre na véspera do escrutínio, levantando uma série de conflitos, críticas e instabilidade, não só por para os partidos políticos, mas também para a sociedade no geral.
Para tentar reduzir esta desconfiança, o Conselho Constitucional (CC), órgão especializado em matéria eleitoral, nos seus acórdãos deliberativos, recomenda a profissionalização dos órgãos de administração eleitoral.
O CC entende que com a profissionalização dos órgãos referidos, o país alcançaria muitos ganhos, incluindo a redução dos conflitos pós-eleitorais e cumprimento na letra e no espírito a Constituição de 1990, que instituiu o multipartidarismo como caminho para o aprofundamento da democracia.
(AIM) Paulino Ch